Quase metade das mortes na BR-040 entre BH e Juiz de Fora ocorreu sem cinto de segurança

Concessionária lança campanha para incentivar o uso do cinto e reduzir acidentes no trecho da rodovia


Por Mariana Souza*

08/10/2025 às 06h00

Mesmo 36 anos após a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança em rodovias brasileiras, muitos motoristas e passageiros ainda insistem em ignorá-lo – atitude que continua a custar vidas. Entre janeiro e agosto deste ano, 28 pessoas morreram na BR-040, no trecho entre Belo Horizonte e Juiz de Fora. Quase metade das vítimas – 12 ao todo – não usavam o cinto de segurança, segundo a EPR Via Mineira, concessionária responsável pelo trecho.

Somente em agosto, duas das três mortes ocorreram com pessoas sem o equipamento. O contraste é significativo em relação ao mesmo período do ano passado: duas mortes, mas nenhuma associada à falta do cinto. Já entre agosto e dezembro de 2024, das oito vítimas fatais, duas não usavam o dispositivo.

O cinto de segurança foi criado como mecanismo de retenção para manter os ocupantes do veículo em seus assentos durante um acidente. Ele tem a função de evitar que braços, pernas e cabeça se choquem contra partes rígidas do carro ou contra outros passageiros, além de proteger os órgãos internos das forças geradas no impacto. Também impede a ejeção do ocupante para fora do veículo, situação que aumenta significativamente a gravidade das lesões e o risco de morte. Quando usado corretamente, o cinto reduz ferimentos nos quadris, na coluna vertebral, na cabeça, no tórax e no abdômen, além de diminuir o risco de perfuração ocular.

A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) reforça que o uso do cinto de segurança é decisivo para reduzir mortes e lesões no trânsito. Pesquisa do Hospital das Clínicas da USP revelou que o equipamento pode diminuir em até 60% os casos de lesões oculares perfurantes.

O levantamento mostrou que os casos de fraturas ocorrem principalmente entre passageiros do banco traseiro sem cinto, seguidos por motoristas e ocupantes do banco dianteiro também sem proteção. Já entre os que usavam o equipamento, os números foram significativamente menores. O estudo chama atenção para um dado crítico: quem viaja sem cinto no banco de trás aumenta em cinco vezes o risco de morte dos ocupantes do banco da frente.

O cinto de segurança é obrigatório por lei. O artigo 167 do Código de Trânsito Brasileiro classifica o não uso como infração grave, sujeita a multa de R$ 195,23 e perda de cinco pontos na CNH. A regra vale para motoristas e passageiros, reforçando a corresponsabilidade no trânsito.

Mais de 200 mil autuações no ano passado

Segundo levantamento feito pela Arteris, concessionária que administra 3,2 mil quilômetros de rodovias nas regiões Sul e Sudeste do país, nos primeiros semestres de 2024 e de 2025, 90 pessoas perderam a vida em acidentes em que foi constatada a ausência do uso do equipamento de segurança.

Esse número representa duas de cada cinco mortes ou 43,7% do total de acidentes fatais em desastres envolvendo veículos que têm (ou deveriam ter) cinto de segurança. Ou seja, veículos de passeio, além de comerciais leves, caminhões e ônibus.

Em sua maioria, as vítimas eram motoristas (61 mortes) e do sexo masculino: 76,6% das fatalidades (69 dos 90 casos analisados). Os dados foram divulgados pela concessionária a partir de levantamentos próprios.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), as autuações por falta do uso do cinto de segurança aumentaram de 90.067, em 2007, para 216.267 no ano passado em todo o país, contribuindo para o elevado número de mortes evitáveis nas estradas.

Campanha de conscientização

Para conscientizar sobre segurança viária, a EPR Via Mineira lançou a campanha Programa Conviver. A iniciativa busca estimular o uso do cinto, a manutenção preventiva dos veículos e o respeito às normas de circulação.

“O cinto de segurança salva vidas. Não importa se a viagem é curta ou longa, se o passageiro está no banco da frente ou atrás: usar o cinto é inegociável”, afirma Anderson Finco, gerente de Operações da concessionária. 

Ele lembra que segurança no trânsito depende do compromisso de todos. “A convivência só se torna realidade quando concessionária, autoridades e usuários atuam juntos pelo mesmo objetivo: preservar vidas”, completa.

Além de reforçar a importância da campanha educativa, a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) chama atenção para a manutenção dos cintos de segurança. A entidade recomenda revisão ao menos uma vez por ano e alerta que o dispositivo deve ser substituído caso o sistema de recolhimento apresente fadiga ou as faixas estejam desfiadas – situações que comprometem a resistência do material e podem levar à falha no mecanismo de retração.

Segundo a Abramet, o desgaste não se deve apenas ao envelhecimento natural do equipamento. Fatores como exposição à poeira fina, excesso de radiação solar, tensionamento anormal ou repetitivo das faixas e o uso frequente de afivelar e desafivelar aceleram a deterioração do cinto de segurança.

*estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

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