Período chuvoso começa sem obras em áreas de risco


Por Eduardo Valente

08/10/2011 às 07h00

Na Rua Rosa Sfeir, uma lona vinílica será colocada na encosta

Na Rua Rosa Sfeir, uma lona vinílica será colocada na encosta

Áreas que correm o risco de desabamento no período chuvoso, iniciado este mês, não receberam intervenção do Poder Público durante a estiagem. Em alguns casos, medidas paliativas devem ser tomadas para tentar evitar acidentes, como a colocação de lonas sobre as encostas. Entre as áreas não contempladas com obras estão localidades que já vivenciaram tragédias em anos anteriores, como o Leito da Leopoldina, no Bairro Ladeira, região Leste, e o Bairro Santa Tereza, na região Sudeste. Nos dois casos, a informação é de que são aguardadas verbas dos governos Estadual e Federal para que trabalhos de recuperação sejam realizados. De acordo com a Defesa Civil, a situação de outras encostas do município será levantada por meio de um estudo técnico, a ser realizado por uma empresa de Belo Horizonte, vencedora da licitação pública, o que deve ter início no próximo ano. Enquanto a situação não é resolvida, comunidades já vivem dias de ansiedade por causa das chuvas. Para acompanhar este quadro, a Tribuna esteve, nesta semana, em locais identificados com grau de risco 4 pela Defesa Civil, que são as áreas consideradas inabitáveis (ver quadro).

Na Rua Rosa Sfeir, no Grajaú, onde quatro casas estão interditadas desde janeiro, uma lona do tipo vinílica, considerada mais resistente, será colocada na encosta. Um estudo para verificar como a área pode ser recuperada também foi iniciado, no mês passado, por engenheiros da UFJF. Conforme o chefe do Departamento de Operações Técnicas da Defesa Civil, Adair Elpes, uma possibilidade é demolir um imóvel construído na Rua Miguel Jacob, que fica acima do barranco. "Se houver outras movimentações de terra, a casa pode vir abaixo, por isso, a intervenção é necessária. Atualmente, o Setor Jurídico da Prefeitura analisa esta possibilidade."

A auxiliar administrativa Maria Auxiliadora Ferreira é proprietária de um dos imóveis interditados pela Defesa Civil na rua. Ela teme que novos escorregamentos aconteçam neste período, destruindo ainda mais a sua casa. "Colocaram lona no ano passado e nada adiantou. A chuva vem muito forte e a terra acaba se movimentando. Minha espera por soluções tem mais de dois anos, e até hoje nada de concreto foi feito."

Outra área com grau de risco 4 fica na Rua Manoel Moreira de Morais, Bairro Jardim de Alá, Zona Sul. Na primeira quinzena de janeiro, uma casa foi soterrada após desabamento de talude. Dois imóveis que fazem divisa com o terreno atingido estão interditados, e a previsão é que lonas sejam dispostas no terreno, pois os engenheiros não sabem como a área vai se comportar neste período chuvoso.

Caso semelhante é monitorado na região Sudeste desde março de 2008, quando um barranco desabou sobre uma residência na Rua Adelaide Campos Resende, Bairro JK. Conforme Adair, existem várias edificações no mesmo terreno, e elas estão parcialmente interditadas. O mesmo acontece com imóveis que ficam na rua acima, a José Teodoro dos Santos, onde três casas foram demolidas. Neste local, também não houve obras de melhorias, apenas a colocação e substituição das lonas.

 

Plano de contingência

Ainda este mês, o prefeito Custódio Mattos deve assinar o decreto que estipula atenção especial à Defesa Civil durante o período chuvoso. Com isso, conforme o chefe da subsecretaria, major José Mendes da Silva, haverá remanejamento de profissionais para reforçar os atendimentos nos horários de plantão. Ainda segundo major Mendes, neste ano, foi intensificado o plano de contingência, que estipula normas e padrões de atendimento, de acordo com a situação vivida. "Os engenheiros e técnicos saberão, exatamente, como lidar em um caso de desabamento de talude ou soterramento. Eles foram capacitados para estes serviços."

Os estoques da Defesa Civil também estão reforçados. A estimativa é que não faltem, nos próximos meses, materiais como lonas plásticas, escoras, telhas de amianto, colchões e roupas de cama, que poderão ser doados. Além de ser firmado acordo de cooperação com outros órgãos, como o Corpo de Bombeiros, Cesama (que pode fornecer caminhões-pipa), Empav e a estrutura das secretarias de Saúde e Obras.

Para o professor de Engenharia Civil da UFJF, Marcio Marangon, que atualmente orienta uma tese de mestrado sobre mapeamento de áreas de risco, neste período em que se aproxima as chuvas se faz necessário tomar providências para melhorar as condições de uso do solo. "Nenhuma grande intervenção pode ser realizada, mas é possível minimizar e atenuar os riscos de escorregamento, como a colocação das lonas." O especialista salienta que o material não resolve o problema, apenas diminui o risco de movimentação da terra.

Sobre a recuperação das áreas de risco, Marangon explicou que são de custo elevado, e a própria engenharia ainda não tem um domínio amplo sobre o assunto. "Eu percebo que o Ministério das Cidades sinaliza o interesse em liberar os recursos necessários, mas a burocracia ainda é muito grande."

 

Leito da Leopoldina e Bairro Santa Tereza

A Rua José Inácio da Trindade, mais conhecida como Leito da Leopoldina, no Ladeira, região Leste, é classificada pela Defesa Civil com o grau de risco 3, ou seja, pode ocorrer algum incidente. O aposentado José Lourenço, 66 anos, vive no local há mais de 30 anos e acompanha, de perto, a evolução do problema, que teria começado no final da década de 1990, quando houve o primeiro escorregamento de talude na área.

A cada período chuvoso, o problema se agrava e, atualmente, a rua onde era possível transitar um carro, hoje tem cerca de um metro de largura. "Ficamos preocupados, porque não sabemos como isso vai evoluir. Se continuar como está, daqui a pouco, o barranco chega até a minha casa. Entra ano, sai ano, e nada é feito", desabafa o aposentado.

O chefe da Defesa Civil do município, major José Mendes da Silva, explica que a situação do Leito da Leopoldina é muito complexa, mas já existe um estudo para recuperação da área, que começou a ser povoada de forma irregular. "O recurso do Governo federal ainda não chegou, só podemos aguardar e monitorar."

Três anos sem solução

No Bairro Santa Tereza, região Sudeste, o impasse continua. Em março de 2008, 13 construções foram demolidas e outras permanecem interditadas após o aparecimento de trincas nas ruas José Ladeira e Edgard Carlos Pereira. As obras de recuperação do terreno têm um custo elevado e, por isso, a Prefeitura aguarda recursos que viriam por meio do Governo federal. Para isso, segundo major Mendes, é aguardada uma decisão da Justiça que vai determinar os responsáveis pela tragédia.

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