Equipe de JF busca ser bicampeã em Olimpíada de Matemática da Unicamp 

Para participação na última fase da competição, que ocorre em Campinas, responsáveis pelo grupo realizam vaquinha on-line para custear viagem


Por Elisabetta Mazocoli, estagiária sob supervisão de Marcos Araújo

02/08/2022 às 09h05

 A equipe “Tesseract”, formada por Pedro Duarte Borges, Ulisses Abrita e Mariana Honório, da instituição de ensino Colégio Militar de Juiz de Fora, chegou até a última fase da Olimpíada de Matemática da Unicamp (OMU). No ano anterior, durante a pandemia, eles foram campeões da competição, que ocorreu a distância. Em 2022, a última fase será presencial, em Campinas, e por isso os responsáveis pelos alunos estão realizando uma vaquinha on-line para custear todos os gastos da viagem. 

O total a ser arrecadado é de R$ 5 mil, e os responsáveis explicam que o valor busca cobrir os gastos com passagem até Campinas, hospedagem e alimentação durante a viagem para a competição. De acordo com Regina Gonçalves, mãe de Ulisses Abrita, de 15 anos, todos os três são muito estudiosos e já vêm se dedicando às competições há anos. “Todos eles são ouro em diversas olimpíadas nacionais de conhecimento, seja de matemática, de ciências ou de astronomia”, diz. Dentre as medalhas dos membros da equipe, além da OMU do ano passado, também estão colocações na Olimpíada Nacional de Ciências, Olimpíada de Astronomia e Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas.

A última fase da OMU ocorre no dia 3 de setembro, e a equipe já foi convocada entre os mais de 6 mil inscritos no país para participar. O grupo surgiu justamente pelo interesse dos três participantes pela área da matemática e por já participarem de competições similares. Eles também fizeram um curso de iniciação científica na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que, de acordo com Débora Duarte, mãe de Pedro Duarte Borges, de 16 anos, contribuiu para que o trio progredisse ainda mais. “Os três tinham esse mesmo interesse, e antes mesmo de se inscreverem na Olimpíada já tinham um grupo de estudo entre eles. Eles fazem porque gostam muito mesmo”, conta.

Para Márcio Honório, pai de Mariana Honório, de 15 anos, foi notável que a filha sempre se dedicou muito aos estudos e que a união entre os três permitiu que também avançassem juntos. “Ficavam sempre conversando, às vezes até tarde, desenvolvendo os problemas. É algo deles mesmo, e que o professor Flávio, da escola, também ajudou incentivando”, conta. Mesmo com todas as dificuldades para chegar até a competição, principalmente, como ele explica, levando em conta a redução do poder aquisitivo de muitas famílias durante a pandemia, ele revela que os três “estão lutando com unhas e dentes para trazer esse prêmio para Juiz de Fora”. 

alunos olimpiada de matematica arquivo pessoal
Legenda: Dentre as conquistas do trio, além da Olimpíada de Matemática da Unicamp do ano passado, também tem colocações na Olimpíada Nacional de Ciências, de Astronomia e na Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas (Foto: Arquivo Pessoal)

Preparação para a competição

O professor Flávio de Souza Coelho foi escolhido pela equipe para orientá-los durante a competição, tanto deste ano quanto do ano passado. Ele foi professor dos alunos durante o sétimo ano do Ensino Fundamental e, por isso, mesmo já tendo sido realocado de escola, manteve os laços com os estudantes. “Desde a época em que dei aula para eles, essa equipe já se mostrava bastante responsável quanto à produção de conhecimento, às apresentações e as respostas às questões desafiadoras da matemática”, conta. Quando foi chamado para coordená-los na competição, ele já percebia o potencial deles e a vontade de aprender.

Durante esse treinamento para as competições, o professor não pode oferecer ou indicar soluções para os problemas apresentados, cabendo aos alunos cuidarem de toda essa parte. “É uma orientação que me traz muita alegria, porque eles não me dão trabalho algum. Meu papel é de motivá-los, apresentando alguns materiais e tirando dúvidas. Mas o estudo mais aprofundado é mesmo por conta deles”, diz o professor. 

Entre os responsáveis, fica bastante claro como os alunos levam a sério a competição. A mãe de Pedro conta que ele chega a ficar “oito ou até dez horas estudando e resolvendo problemas”, e o pai de Mariana afirma que ela sempre pediu livros da área para se aprofundar nos estudos. Mesmo assim, a mãe de Ulisses também conta que todos os três têm conseguido balancear bem a dedicação à matemática e as outras atividades. “É muito bom ver, no mundo em que vivemos hoje, pessoas que se dedicam aos estudos assim. Eles conseguem tempo pra tudo, pra sair, pra ir pra academia, para se divertir e, mesmo assim, estão sempre focados”, diz.

O professor explica, ainda, que a equipe se aprofunda em questões que vão muito além do currículo do primeiro ano do Ensino Médio, período escolar em que estão matriculados. Para ele, no entanto, o interessante da olimpíada é justamente se diferenciar do que é ensinado em sala de aula. “Não se trata de repetir modelos da escola nem questões que sejam padronizadas clássicas, são questões que buscam revelar aptidão para o raciocínio e olhar matemático”, explica. O professor também vai  acompanhar os estudantes durante a competição em Campinas, assim como exige o regulamento.

Paixão pela matemática

A paixão pela matemática surgiu cedo para todos os três. Pedro, como conta a mãe, aos três anos já “ficava fazendo conta com os dedos” – algo que aprendeu por iniciativa própria. O mesmo interesse também foi despertado em Ulisses, que mesmo no período da pandemia não deixou de se dedicar a esses estudos e sempre se aprofundou mais na área.  O pai de Mariana, por sua vez, relembra que ela “sempre tratou a matemática como brincadeira, inclusive associando esse estudo à música”.

Para Márcio Honório, é notável que a filha está conseguindo abrir muitas portas através da educação, já que ele sempre incentivou a jovem e mostrou que na casa deles “todos precisaram da educação para conquistar o seu espaço”. Sobre a competição, ele conta que é um divisor de águas para todos eles. “Só nós sabemos a dificuldade que eles passam, muitas vezes sem nenhum incentivo. A gente tenta com o que pode para ajudá-los a conquistar seus sonhos”, diz.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.