Aparição de serpentes em área urbana preocupa população
Especialista orienta sobre o que fazer e o que evitar na presença desses animais; em JF, projeto mapeia locais de maior incidência dos répteis
Nas últimas semanas, moradores de Juiz de Fora e região enviaram à Tribuna reclamações sobre o aparecimento de serpentes em residências e áreas urbanas próximas a matas. Nos primeiros meses de 2023, de acordo com dados fornecidos pelo Corpo de Bombeiros, o número de ocorrências do tipo já totaliza mais da metade do que as registradas ao longo de todo o ano passado, sendo 58 registros de janeiro a abril. Em 2022, foram 108 notificações no ano.
De acordo com o analista ambiental do Centro de Triagem de Animais Silvestres de Juiz de Fora (Cetas/JF), Glauber Barino, os encontros com esses animais se tornam mais frequentes entre março e agosto, já que as temperaturas estão mais baixas e as serpentes buscam lugares mais quentes para regular sua temperatura corporal. Além disso, esse é conhecido como um período de acasalamento desses répteis.
No entanto, além das condições ambientais, o especialista também aponta o crescimento do setor imobiliário e o desmatamento como fatores que proporcionam a proliferação no ambiente urbano, já que muitos bairros e condomínios estão sendo construídos ao redor de mata nativa. “Nesses casos, quase sempre somos nós que estamos invadindo as áreas de moradia das serpentes.”
Ibama não solta animais
O biólogo também alerta a população a respeito do mito de que as serpentes resgatadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) são soltas em matas próximas às áreas urbanas. Essa informação é falsa. Na verdade, os animais recolhidos pelos órgãos competentes são encaminhados para o Cetas/JF, onde existe um serpentário em que as serpentes ficam até serem destinadas. As serpentes peçonhentas são enviadas para as instituições de pesquisa, como a Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte; Instituto Vital Brazil, em Niterói (RJ); e Instituto Butantan, em São Paulo, onde são utilizadas no processo de fabricação de soro antiofídico.
“Nem o Ibama, nem o IEF (Instituto Estadual de Florestas) de Juiz de Fora soltam serpentes peçonhentas. Boatos como soltura desses animais em matas próximas à cidade, soltura de helicóptero ou avião, e a correlação do aparecimento de mais serpentes com essas supostas solturas são falsos. Existem protocolos rígidos a serem seguidos para destinação de serpentes peçonhentas e, no caso do Cetas/JF, a destinação é para as instituições de pesquisa”, explica Barino.
Projeto busca mapear locais de maior incidência
O projeto de divulgação científica “Répteis JF” tem o objetivo de mapear os locais de maior incidência de serpentes em Juiz de Fora. No total, já foram registradas 24 espécies, sendo que apenas três são peçonhentas (cascavel, jararaca e coral verdadeira). A bióloga Nathália Honório realizou esse estudo sob orientação do professor de ciências biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora Henrique Caldeira. Ela explica que em termos de quantidade de indivíduos, as espécies com mais registros foram duas peçonhentas: cascavel e jararaca, “porque elas são bem adaptadas a áreas alteradas pela ação humana”.
O levantamento é realizado com a ajuda da população, que envia fotos dos animais, junto com o local onde foram encontrados, para o perfil do Instagram @repteis.jf ou publicando na plataforma iNaturalist, um site de registros da biodiversidade. “Essas informações nos ajudam na prevenção de acidentes ofídicos (que são os acidentes por picada de cobra) e no conhecimento das áreas importantes para conservação desses animais que, além de ajudarem no controle de populações de outras espécies, como ratos, possibilitam a produção de medicamentos a partir do seu veneno”, destaca Nathália.
A maioria dos registros identificados pela pesquisa ocorreu nas regiões mais periféricas da cidade, que ainda contam com fragmentos de mata próximo a residências, onde esses animais encontram abrigo e alimento. Os leitores que encaminharam reclamações a respeito do aparecimento de cobras moravam na região Nordeste, no Bairro Granjas Bethânia, e no município de Chácara. De acordo com Nathália, as regiões que tiveram mais registros ao longo da pesquisa foram as zonas Oeste, Norte e Nordeste de Juiz de Fora.
Saiba o que fazer e quem acionar
Ao se deparar com uma serpente, peçonhenta ou não, a orientação é acionar a Companhia de Meio Ambiente da Polícia Militar, por meio do telefone (32) 3228-9050; o Corpo de Bombeiros, pelo 193; a Guarda Municipal Ambiental, através do número 153; ou o Cetas JF (Ibama/IEF), no (32) 3233-1269. Não é aconselhável o recolhimento de pessoas sem experiência, pois há grandes riscos de acidentes.
No momento de espera do serviço de acolhimento, a recomendação é manter o local isolado e se afastar da serpente. Em casos de acidentes causados por animais peçonhentos, é necessário procurar o serviço de saúde para receber o tratamento o mais rápido possível. Em Juiz de Fora, o local indicado é o Hospital de Pronto Socorro (HPS).
Nos casos em que a serpente estiver em um ambiente natural, a recomendação é de apenas manter distância de segurança e nunca matar o animal. Vale ressaltar que maltratar ou matar animal silvestre é crime ambiental, podendo resultar em multa e apreensão.