Irmãos confessam assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips
Polícia Federal levou um dos suspeitos para a área de buscas no Rio Itaquaí, no Vale do Javari
Os dois suspeitos presos pelo desaparecimento do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips confessaram nesta quarta-feira (15) o assassinato das vítimas. A informação foi divulgada inicialmente pela Band News. Oseney da Costa Oliveira, o Dos Santos, foi o primeiro a admitir o crime. Depois, seu irmão, Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, também assumiu participação nas mortes. Haveria ainda um terceiro suspeito, que teria sido responsável por atirar em Bruno e Dom.
Um dos presos foi levado pela Polícia Federal, na manhã desta quarta, para a área de buscas no Rio Itaquaí. O homem foi levado da delegacia de Atalaia do Norte (AM) para o porto da cidade, principal acesso às terras indígenas do Vale do Javari, no Amazonas. Uma vez lá, foi colocado em um carro da Polícia Federal e embarcou usando boné, máscara de proteção facial e um casaco com capuz.
Pereira e Phillips percorriam a região do Vale do Javari. Pereira orientava moradores da região a denunciar irregularidades cometidas em reserva indígena e o jornalista estrangeiro acompanhava o trabalho para registrar em livro que pretendia escrever.
‘Mal visto’
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar a postura de Dom Phillips e de Bruno Pereira, e afirmou que o colaborador do jornal britânico “The Guardian” era “mal visto” na região. “Esse inglês era mal visto na região, fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental. Então, naquela região bastante isolada, muita gente não gostava dele. Deveria ter segurança mais que redobrada consigo próprio”, afirmou o presidente, em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube. “Os dois resolveram entrar numa área completamente inóspita sozinhos, sem segurança, e aconteceu problema”, acrescentou. “É muito temerário você andar naquela região sem estar preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado pela Funai, que pelo que parece não estavam.”
Cartéis de drogas de Miami, Medellín e Sinaloa mantêm uma espécie de estado paralelo no entorno da Terra Indígena do Vale do Javari, onde desapareceram Bruno e Dom. A atuação da dupla ainda ameaçava os interesses de garimpeiros e pescadores ilegais no local. Ao se pronunciar pela primeira vez sobre o caso, Bolsonaro já havia definido a expedição do jornalista e do indigenista como “aventura”. Nesta quarta, o presidente definiu a viagem do jornalista, que preparava um livro sobre o local, como “excursão”.
“Pelo que tudo indica, se mataram os dois, espero que não, estão dentro d’água. E dentro d’água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha no Javari”, disse o chefe do Executivo. “A gente lamenta, pede que nada tenha acontecido”, acrescentou, em seguida.
Decisão
A mesma juíza que havia determinado ao Governo federal o reforço às buscas pelos desaparecidos, Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível da Justiça Federal no Amazonas, ordenou que a Fundação Nacional do Índio (Funai) deixe de desacreditar a trajetória e o trabalho de Bruno Pereira e Dom Phillips. Ela ainda determinou que o órgão se abstenha de praticar qualquer ato que “possa ser considerado atentatório a dignidade dos desaparecidos” ou que implique em “injusta perseguição” à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) ou aos servidores da Funai lotados na Coordenação Regional do órgão.
O despacho de Jaiza Maria atende a um pedido da Defensoria Pública da União, que questionou uma nota em que a Funai contestou a autorização do indigenista para entrar na Terra Indígena Vale do Javari. No mesmo texto, o órgão anunciou a intenção de acionar o Ministério Público Federal para “apurar a responsabilidade” da Univaja “quanto à possível aproximação com indígenas de recente contato sem o conhecimento da instituição e, aparentemente, sem a adoção das medidas sanitárias cabíveis”.
‘Dificuldades’
A Polícia Federal relatou ao Supremo Tribunal Federal “dificuldades” enfrentadas pela corporação no cumprimento de decisões da corte máxima no âmbito da ação que tratou do plano de contenção da pandemia da Covid-19 em terras indígenas. Segundo o delegado Paulo Teixeira de Souza Oliveira, chefe do Serviço de Repressão a crimes contra comunidades indígenas e conflitos agrários, tais “dificuldades” se concentram na “falta de logística necessária” e na “falta de recursos financeiros para custear a estrutura operacional, quando solicitado apoio a outros ministérios do governo federal”.
O relatório foi assinado no dia 10 de junho e juntado aos autos da ação em que o STF proferiu uma série de decisões sobre a proteção da população indígena, desde a ordem de instalação de barreiras sanitárias para conter a pandemia até a determinação para retirada de invasores das terras indígenas. Foi no âmbito desta mesma ação que o ministro Luís Roberto Barroso determinou que o governo Jair Bolsonaro adote “todas as providências necessárias”, usando “todos os meios e forças cabíveis”, para localizar Bruno Pereira e Dom Phillips.