Imigrantes libaneses relatam apreensão com a explosão no Líbano

Moradores de Juiz de Fora, os libaneses Nádia e Ibrahim Khouri narram momentos de apreensão após explosão na capital Beirute. Ambos têm maior parte da família morando no país


Por Carolina Leonel

05/08/2020 às 21h38- Atualizada 05/08/2020 às 22h21

“Foi muito apavorante e muito triste”, descreve e libanesa Nádia Khouri, uma senhora de 75 anos, que mora há quase 60 em Juiz de Fora, sobre o que sentiu ao tomar conhecimento sobre as explosões ocorridas no porto de Beirute, capital do Líbano, na terça-feira (4). Nascida em Kfarchima, na província do Monte Líbano, próximo à Grande Beirute, Nádia conta que deixou o país aos 14 anos, e lá, toda a sua família. “Hoje em dia parte da minha família, parentes, moram lá, outra parte também imigrou”. A maioria dos familiares que Nádia deixou no Líbano, mora em Kfranis, a cerca de 40 quilômetros da capital do país. “Nessa cidade, eu tenho vários parentes, inclusive meu irmão mora lá também. Ontem e hoje (quarta-feira) fiquei em contato o dia todo com eles porque a gente fica preocupada, sem saber direito o que está acontecendo”, lamenta.

A explosão, narra Nádia, pode ser sentida pelos familiares, em Kfranis. “Na hora, eles não sabiam o que estava acontecendo, acharam que era terremoto”. Entre seus familiares e parentes, ela soube apenas do filho de um primo, que ficou ferido após a catástrofe. “Apesar de morar em Beirute, ele não estava no local da explosão, estava chegando na sua casa . Na hora, ele ouviu uma explosão, pedras e vidros caindo, mas ficou tudo bem. Pelo que sei, todos parentes estão em casa e bem”.

Apesar do alívio em receber boas notícias sobre seus familiares, Nádia Khouri lamenta toda a situação que acomete o povo libanês. “O libanês é muito boa pessoa, mas sofre desde que nasce”, diz. “Agora, além da crise que já vem há mais tempo, tudo que eles iriam receber de mantimentos, e que estavam no porto para serem distribuídas, acabou com a explosão”, lamenta. A tragédia em Beirute se soma à já difícil situação do Líbano, que enfrenta grave crise econômica. “Os libaneses estão apavorados com essa situação. Estão pedindo por ajuda, por paz. Ninguém sabe o que de fato aconteceu, se foi mesmo o que o governo alega, ou se pode ter sido terrorismo. Estão muito apreensivos. Mas o Líbano é um país lindo. Mais bonito que a França, que a Itália. Nem sei explicar a beleza dele. Merece paz.”

“Está bem difícil”

Vindo para o Brasil em 1952, o também imigrante libanês Ibrahim El’ Khouri, 83, cujo irmão fora casado com Nádia, também ficou apreensivo com a notícia do desastre em seu país. Apesar de seus familiares estarem ilesos, em um primeiro momento, ele chegou a pensar que a tragédia poderia ter alcançado a família e fez ligações a parentes em busca de aliviar a preocupação. “Eu tenho mais familiares lá do que aqui. O prédio em que moram minha irmã e minha sobrinha foi afetado e está condenado, vai ter que ser demolido. Por sorte, meus familiares todos não estavam em Beirute, foram para as montanhas”, conta Ibrahim, que mora em Juiz de Fora há 40 anos. Atualmente é verão no Líbano e, na capital, costuma fazer muito calor, relata Ibrahim. Com isso, muitas pessoas saem de Beirute para procurar locais com temperaturas mais amenas. Foi o caso de seus familiares. “Estão todos bem. Se não fosse isso, poderiam ter se ferido ou até morrido”.

Ibrahim também lamenta a situação que seu país de origem atravessa. “Está bem difícil”. Ele, que costuma visitar a terra natal com frequência, já havia adiado a viagem devido à pandemia. Mas afirma que pretende ir ao Líbano no ano que vem e encontrar o país que “adora” em melhores circunstâncias.

No começo da tarde desta quarta (5), as autoridades libanesas contabilizavam 135 pessoas mortas e cerca de cinco mil feridos. Os números, no entanto, deverão aumentar, pois ainda são feitas buscas por vítimas soterradas e, possivelmente, que foram lançadas ao mar.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.