Lula recebe faixa presidencial na rampa do Palácio do Planalto
Em discurso no parlatório, presidente afirmou que vai governar para todos e pregou tolerância
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu a rampa do Palácio do Planalto neste domingo (1º de janeiro), acompanhado por cidadãos que representam “a riqueza e a diversidade do povo brasileiro”, como afirmou o cerimonial da posse. Além disso, também levou em uma coleira a cachorra Resistência, adotada por ele e pela primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, no período em que ele esteve preso em Curitiba. Mais cedo, ele foi empossado como presidente para o mandado 2023-2026.

Lula recebeu a faixa presidencial das mãos de uma mulher negra. Emocionado, Lula vestiu a faixa e acenou aos presentes na Praça dos Três Poderes, repleta de apoiadores. Ele foi ovacionado no salão Nobre do Planalto.
O presidente subiu a rampa acompanhado de representantes de diferentes grupos sociais, como o cacique Raoni, além de uma criança e uma pessoa com deficiência.
No rito de posse dos presidentes, o mandatário que assume o cargo recebe a faixa das mãos do antecessor. Entretanto, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou o país às vésperas da posse de Lula para não passar-lhe a faixa presidencial.
‘Vou governar para todos’
O presidente iniciou seu pronunciamento à Nação no Palácio do Planalto agradecendo ao povo brasileiro e citou os apoiadores que fizeram vigília em Curitiba, na época em que estava preso. Ele assegurou que vai governar para todos e repetiu a frase dita logo após sua vitória nas eleições de que “não existem dois Brasis”. Lula disse que este é “o dia mais feliz” de sua vida.
“Quero começar fazendo uma saudação especial. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebia todos os dias do povo brasileiro – representado pela Vigília Lula Livre -, num dos momentos mais difíceis da minha vida. Boa tarde, povo brasileiro!”
Lula agradeceu aos apoiadores que “tiveram a coragem de vestir a nossa camisa e agitar a Bandeira do Brasil”, quando um grupo mais radical que apoiava o ex-presidente Jair Bolsonaro tentava “se apropriar” das cores da bandeira. “Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência política antes, durante e depois da campanha eleitoral. Que ocuparam as redes sociais, e que tomaram as ruas, debaixo de sol e chuva, nem que fosse para conquistar um único e precioso voto.”
Mas o presidente destacou que vai governar para todos os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou nele. “Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado.”
Lula disse que “a ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia” e pregou que é hora de reatar os laços com amigos e familiares, que foram rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. “Chega de ódio, fake news, armas e bombas. O nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz”, ressaltou.
“Não existem dois brasis. Somos um único país, uma grande nação. Somos todos brasileiros e brasileiras, e compartilhamos uma mesma virtude: nós não desistimos nunca. Ainda que nos arranquem todas as flores, uma por uma, pétala por pétala, nós sabemos que é sempre tempo de replantio, e que a primavera há de chegar. E a primavera já chegou. Hoje, a alegria toma posse do Brasil, de braços dados com a esperança”, discursou Lula.
‘Pandemia foi genocídio’
O presidente relembrou os mortos pela pandemia de Covid-19 no Brasil, classificando a como um “genocídio”, e disse que as responsabilidades “hão de ser apuradas e não devem ficar impunes”. Durante o discurso, com cerca de 30 minutos de duração, no Congresso Nacional Lula ainda adicionou que não fará revanchismo durante sua gestão.
“Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei”, afirmou. “Quem errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido processo legal. O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia.”
Com elogios à competência do Sistema Único de Saúde, o petista destacou que houve um “paradoxo” durante a pandemia, que pode ser explicado pela condução do governo federal no período. “Em nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias, graças à competência do nosso Sistema Único de Saúde. Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista, obscurantista e insensível à vida. As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes”, afirmou.
O presidente ainda falou que há um desafio civilizatório em responsabilizar produtores de notícias falsas. “Defendemos a plena liberdade de expressão, cientes de que é urgente criarmos instâncias democráticas de acesso à informação confiável e de responsabilização dos meios pelos quais o veneno do ódio e da mentira são inoculados. Este é um desafio civilizatório, da mesma forma que a superação das guerras, da crise climática, da fome e da desigualdade no planeta”, disse.