‘Gente que fez a Tribuna’: os momentos mágicos de Ismair Zaghetto
Em celebração aos 40 anos da Tribuna, 40 profissionais que já passaram pelo jornal compartilham suas memórias, publicadas no portal, de 7 de julho a 31 de agosto, em contagem regressiva para o aniversário da Tribuna, no dia 1º de setembro
Dois momentos mágicos que valem por uma paixão
Ismair Zaghetto*
Todos nós temos um cantinho especial, bem lá no quartinho dos fundos da memória, onde guardamos nossos momentos mágicos. E eu tenho tantos que me ligam com muita emoção à Tribuna de Minas.
Num relance, eu buscaria dois, assim, de supetão.
O primeiro deles está no cigarrinho das quatro da tarde, que eu pitava, todos os dias, com o querido e saudoso Eloísio Furtado, em sua cela envidraçada na “velha” Tribuna, lá na Academia, no pico da Rua Halfeld.
O Elô sempre foi uma criatura iluminada, que transpirava poesia e informação 25 horas por dia. Foi o primeiro editor-geral do jornal, que ele ajudou fortemente a criar, e você aprendia sempre com ele. Por isso, estar em sua companhia era uma dessas dádivas que Deus nos dá sempre.
Tínhamos uma amizade muito intensa, que começou lá no ainda mais velho Diário Mercantil, na Rio Branco, em frente ao Excelsior, e se estendeu na Tribuna.
Bem, voltemos ao cigarrinho das quatro. Eu já entrava na sua sala sacando o meu “Du Maurier”, que ele não curtia muito (“Parece coisa de mulher, Zaghetto”), e desandávamos a falar de jornal, de fotografias, de filmes e de mulher (por que não?). E havia também um assunto que ele gostava que eu falasse alguma coisa.
Ele sempre soube que eu era espírita e gostava que eu falasse de reencarnação. Eu lhe falava de Kardec, de Chico Xavier e das razões que me levaram a esse caminho frutuoso. Dava ele seus pitacos no assunto, mas sempre insistia em me perguntar se eu acreditava em tudo isso, com toda a minha alma. “Em você eu acredito, meu irmão”, arrematava sempre.
Essa pitada de quatro da tarde com o Elô gravou-se forte e gostosamente em minha memória, e eu, confesso, não quero perdê-la.
O meu outro momento na Tribuna está também na parte da tarde e envolve, igualmente, aprender muito. Estou falando, meus amigos, do cafezinho com o professor Juracy Neves. Ah…como era bom ouvi-lo. Provavelmente, o maior intelectual com quem convivi, eu sugava-o em miríades de assuntos, pois ele sempre soube tudo e um pouquinho mais.
Havia a vontade de aprender, de minha parte, claro, e também matar a nostálgica saudade das aulas de Antropologia que com ele tive nos domínios das ciências sociais na Universidade Federal. Devo a ele, confesso, a minha obsessão pelos fenômenos da cultura. E que tanto me valeu mais tarde, nos 25 anos em que lecionei Antropologia Cultural e Sociologia Geral na Faculdade Machado Sobrinho e na Facsum.
Eu poderia, amigos, falar mil e uma coisas da Tribuna e sua pétrea vocação de exaltar Juiz de Fora, mas, prefiro continuar lustrando esses dois momentos mágicos que me ligam aos seus magníficos 40 anos. Aleluia!
*Na Tribuna, Ismair foi diretor-comercial, antes de vincular-se à Editoria de Economia do jornal, assinando a coluna “Agenda Econômica”, além de produzir e editar vários suplementos especiais, com destaque para o “Relatório 2000”, síntese da economia juiz-forana no período.
Tópicos: tribuna 40 anos