Mudanças climáticas provocarão gastos de US$ 4 bilhões em saúde

PUBLIEDITORIAL

Série de três anos recordes de calor – cada um acima de 1 grau Celsius – combinada com perdas econômicas recordes nos desastres em 2017, mostra que estamos enfrentando uma ameaça existencial para o planeta, diz a ONU


Por Assessoria Unimed

21/01/2018 às 07h00

O ano terminou, mas os efeitos de tudo o que ocorreu nele indicam que ainda lembraremos de 2017 por muito tempo. Nesta semana, a agência meteorológica das Nações Unidas alertou que a pressão contínua sobre o Ártico no ano passado terá “repercussões profundas e duradouras no nível do mar e nos padrões climáticos em outras partes do mundo”. Se 2016 ainda mantém o recorde de ano mais quente (1,2°C), 2017 foi o ano mais quente sem o El Niño (1,1°C acima da era pré-industrial).Os dados preocupantes se somam a outros da Organização Mundial de Saúde (OMS):  até 2030, “as consequências das mudanças climáticas provocarão gastos com saúde de até US$ 4 bilhões por ano”.

A desnutrição, malária, diarreia e o estresse provocados pelo calor intenso podem ser responsáveis por mais 250 mil mortes ao ano, agravados por questões de infraestrutura, como falta de saneamento básico, desabastecimento e não tratamento da água. Esses problemas “agravam os desdobramentos das transformações do clima e seus impactos sobre a saúde, a exemplo do que ocorreu com as recentes epidemias de dengue, zika e chikungunya”, explicou a oficial sênior da ONU Meio Ambiente, Regina Cavani, durante o evento “Diálogos Estratégicos sobre Mudanças Climáticas”, realizado no início de dezembro. O encontro reuniu representantes da OMS, Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Fiocruz, Ministério da Saúde, ONU Mulheres e ONU Meio Ambiente.

O representante especial do secretário-geral da ONU para a Redução do Risco de Desastres, Robert Glasser, afirmou, nesta semana, que“uma série de três anos recordes de calor, cada um acima de 1° Celsius, combinada com perdas econômicas recordes nos desastres em 2017, deve mostrar a todos nós que estamos enfrentando uma ameaça existencial para o planeta que requer uma resposta drástica”. Segundo ele, “estamos ficando perigosamente perto do limite do aumento de temperatura de 2°C estabelecido no Acordo de Paris e o objetivo desejado de 1,5° será ainda mais difícil de ser mantido nos níveis atuais de emissões de gases de efeito estufa”.

M1 Infografico OMS Traducao COR1

Infográfico: reedição do infográfico “Whetheryoulive in a…” –  da OMS, por Vera Fernandes, Graça Portela, Christovam Barcellos (Icict/Fiocruz)

 

 

O importante papel da educação

Para contribuir na conscientização dos efeitos do clima sobre a saúde no Brasil, a Fiocruz está lançando, por meio do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, a série “Clima e Saúde”, a partir de estudos realizados pelo Observatório Nacional de Clima e Saúde, do Laboratório de Informação em Saúde.

Estudos, inclusive, reconhecidos durante a 23ª Conferência do Clima das Nações Unidas, realizada no final de 2017, quando o Centre for Enviroment Education (CEE), da Nehru Foundation for Development, da Índia, lançou – em parceria com a United Nations Framework Conventionon Climate Change e a Unesco – a publicação “Good Practice in Action for Climate Empowerment – A compilation and analysisof case studies”, que destaca o papel da educação e o empoderamento da sociedade civil no apoio à redução e à adaptação aos impactos da mudança climática.

A publicação apresenta estudos de caso de diversos países, entre eles o Brasil com o trabalho desenvolvido pelo Observatório.A experiência brasileira selecionada foi a do sítio sentinela de Manaus (Amazonas), que mostra a correlação entre eventos climáticos extremos e doenças transmitidas pela água na capital do Amazonas, que é banhada pelos rios Negro e Solimões. Os dados analisados indicam que o nível da água dos rios e as chuvas intensas afetam o número de casos de leptospirose na região.

O sítio de Manaus também foi objeto de estudo publicado no relatório “Climate Services for Health – Improving public health decision – making in a new climate”, produzido pela Organização Mundial de Meteorologia e a OMS. Neste caso, o Observatório é citado duas vezes como experiência exitosa: como plataforma de acesso a informações que permitam criar alertas para as doenças trazidas pelas enchentes em Manaus, e como colaborador no estudo preditivo dos riscos de uma epidemia de dengue durante a Copa do Mundo de Futebol ocorrida no Brasil em 2014.

Saiba mais:

Série Clima e Saúde – Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde – Fiocruz

 

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