Turismo LGBTQI+: que turista é esse?
PUBLIEDITORIAL
Coluna de Respeito
A proposta é apresentar o turismo LGBTQI+ a partir de cinco pilares: econômico, social, político, inclusão social e formatação de destinos para públicos específicos. Antes de mais nada, deve-se esclarecer que LGBTQI+ é a sigla, em nível mundial, para definir a população lésbica, gay, bissexual, transgênero, queer, intersexo e demais identidades sexuais e de gênero.
Segundo a Organização do Turismo (OMT, 2018), o turismo LGBTQI+ insere US$ 218 bilhões (R$ 872 bilhões) na economia mundial, representa 10% dos viajantes e movimenta 15% do faturamento do setor. O Brasil é o segundo destino que mais atrai estes visitantes e só perde para os Estados Unidos. Deve-se ressaltar também que o turismo cresce anualmente uma média de 3,5%, enquanto o turismo LGBTQI+ ultrapassa os 11%. Dois bons exemplos: durante o mês de junho, Nova York (EUA) recebeu seis milhões de turistas para a Word Pride – maior parada LGBTQI+ do mundo. Também em junho, ocorreu a parada do orgulho LGBTQI+ de São Paulo, que apresentou aumento de público e de receita em torno de 15% em relação a 2018.
As questões sociais devem ser observadas sob dois prismas. Viajar tornou-se um “marcador sociocultural” relevante para a comunidade LGBTQI+. É momento de externar afetos, emoções e comportamentos em lugares que tendem a tornar-se “paraíso”, em oposição ao preconceito e às restrições do dia a dia. Por outro lado, o mercado turístico LGBTQI+ tem se tornado excelente campo de trabalho e inclusão dessa população que, historicamente, é mantida à margem da sociedade. A atividade turística tem ampliado as discussões em torno das vulnerabilidades e opressões. A visibilidade que o turismo promove tem incentivado várias empresas a adotarem políticas de acolhimento e contratação da população LGBTQI+. Hotéis, companhias aéreas e toda cadeia de produtos e serviços ligados à atividade turística têm implantado políticas de valorização dessa comunidade.
No campo político, o turismo tem se tornado importante na visibilidade e acolhimento da população LGBTQI+, em meio aos retrocessos praticados em vários países que condenam, criminalizam, punem, restringem e dificultam o acesso aos direitos. A visibilidade que o turismo traz tem sido importante aliado na luta contra preconceitos.
Quanto ao processo de profissionalização do destino turístico, Juiz de Fora é um case de sucesso. Desde 1977, em função do Miss Brasil Gay, a cidade recebe um grande número de turistas, muito antes de se falar em turismo LGBTQI+. Já houve anos em que a hotelaria trabalhou com 100% de taxa de ocupação, fato raro na hotelaria. Mas, os tempos mudaram, os eventos mudaram, o público mudou! Nesses 40 anos, a cidade continua trabalhando o setor como “gênero de primeira necessidade”, quando o que se espera é “experiência turística”, muito além do aluguel de apartamentos e serviços básicos. Para além dessa lacuna, deve-se observar a ausência de uma agenda anual, com ações ao longo de todo ano. E essas discussões têm que caminhar para além de eventos festivos, devendo a cidade ser um destino hospitaleiro, acolhedor e que, realmente, respeite a “diversidade”.
Dados de pesquisa aplicada pela UFJF apontam que a maior parte dos turistas permaneceu na cidade, no ano de 2018, apenas duas noites. Os profissionais do setor sabem a importância do aumento do tempo de permanência, aprimorando cada vez mais a “experiência”, com novos produtos e serviços. Outro dado que a pesquisa revela é que o público que visita Juiz de Fora é essencialmente masculino. O que permite antever que há ainda um mercado enorme a ser trabalhado: lésbicas, bissexuais, transgêneros, novos formatos familiares e uma infinidade de identidades de gênero e sexuais.
Em suma, há ainda um arco-íris de possibilidades! Mas, turismo se faz a partir de trabalho em “rede”, por e para pessoas! É necessário entender as novas dinâmicas, para que sejam desenvolvidas ações efetivas. Aliás, há poucos dias dos eventos LGBTQI+, há pacotes turísticos disponíveis? Quais hotéis têm uma promoção formatada? Quais restaurantes têm pensado em um serviço especial? Quantas reuniões entre os setores público e privado ocorreram? #lgbtqjuizdefora
Data: 17 de agosto
Local: Terrazzo · Juiz de Fora
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