Financiamento exige preparação e conhecimento
Linhas de crédito dos bancos oferecem condições que variam de acordo com imóvel, prazo e taxas de juros; especialistas orientam planejamento do consumidor
A decisão de comprar um imóvel exige informação e planejamento financeiro. Os bancos oferecem várias linhas de crédito com condições que variam de acordo com o tipo e o valor da residência, o prazo máximo para pagamento, as taxas de juros e outros requisitos. Estas características podem ser atualizadas com o decorrer do tempo, e, por isso, manter-se informado é uma necessidade para quem deseja realizar o sonho da casa própria.
O programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo federal, por exemplo, teve aumento do limite de renda familiar para a participação em fevereiro e, agora, em julho, sofreu nova alteração, passando a atender famílias com renda de até R$ 6,5 mil mensais. Conhecer as opções de financiamento disponíveis é um passo importante para a realização de uma compra com tranquilidade, segundo orientação de especialistas. Outra questão que requer atenção do comprador é garantir que o pagamento das parcelas não comprometa mais do que 30% da renda familiar.
A professora de Economia da UFJF e integrante do projeto Conjuntura e Mercados Consultoria, Fernanda Finotti Perobelli, e o arquiteto Uéslei Bonin explicam o que precisa ser avaliado antes de decidir pela compra. “É preciso analisar preço, condições de pagamento e documentação exigida. O interessado deve considerar os reais motivos da aquisição e comparar os custos com o aluguel. Se decidir pela compra, é muito importante verificar os documentos necessários, como licenças da Prefeitura e escrituras em cartório, informações que devem ser cobradas do corretor de imóveis. Também é aconselhável pesquisar preços com mais de um profissional”, diz ele.
“O investimento em imóveis representa uma grande imobilização de capital ou o comprometimento, por longo prazo, da renda futura. Por isso, o planejamento é sempre necessário. Ao optar pelo financiamento, o consumidor deve ficar atento para que as prestações não superem um terço da renda familiar. O investidor deve ter um plano de contingências que lhe permita viver e honrar as parcelas por, pelo menos, seis meses, prazo mínimo necessário para se desfazer dos compromissos adquiridos ou obter uma nova fonte de renda, caso aconteça algum imprevisto”, orienta Fernanda.
A economista alerta, ainda, sobre outros aspectos que devem ser observados ao optar pelo financiamento. “O ideal é dar o maior valor de entrada possível na compra de um imóvel pronto. Se for uma aquisição na planta, a lógica é inversa, de modo a evitar o risco de não recebimento.” Ela destaca que quem escolher a segunda forma de compra deve se manter atento à credibilidade e saúde financeira da construtora e da incorporadora. “Entretanto, tão logo as chaves sejam entregues, quitar as prestações no menor tempo possível é recomendável. Como em qualquer ativo financeiro, o poder dos juros compostos não deve ser ignorado, por representar uma parcela grande do valor final pago.”
Planejamento inclui gastos após a compra
O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, destaca que o planejamento financeiro inclui gastos após a compra. “Para financiar é necessário pesquisar linhas de crédito, fazer simulações de compra e absorver todo tipo de informação para que se possa fazer a melhor escolha. Feito isso, é fundamental entender que se está assumindo um compromisso a longo prazo, que deverá caber no orçamento, mas também não se pode esquecer que, com a nova casa, chegam novos gastos”, diz.
“Há um custo para as instalações, o condomínio, o IPTU e até mesmo a compra de móveis novos. É preciso observar se o local escolhido para morar mantém o mesmo padrão de vida de onde se morava, pois os preços na padaria, no supermercado ou no açougue podem ser mais caros. A escola do filho e o trabalho podem ficar mais distantes e, assim, ser criado o gasto com transporte ou combustível. Tudo isso tem que ser considerado, pois interfere no orçamento familiar.”
Reinaldo orienta que, para se planejar, o comprador deve ordenar prioridades. “A regra não deve ser o que eu ganho, menos as despesas e o que sobrar vou poupar para investir na casa própria. O ideal é retirar do orçamento o valor daquele sonho material que eu tenho, de forma a proteger esse dinheiro. O que restar é destinado às despesas. Assim, eu me obrigo a modificar o meu modelo mensal de gastos, entendendo que eu tenho um valor menor disponível.”
Minha Casa, Minha Vida financia até 90% do imóvel
A Tribuna destaca as principais condições de financiamento oferecidas pelos bancos, que variam conforme a linha de crédito e a instituição escolhida pelo comprador (ver quadro). Mas o consumidor deve lembrar que, além dos bancos, há construtoras que oferecem condições de parcelamento próprias. É possível consultar as possibilidades com as próprias empresas, corretores de imóveis e imobiliárias.
Nos bancos, o programa Minha Casa, Minha Vida pode financiar até 90% do valor de imóveis avaliados em até R$ 190 mil. O prazo máximo para pagamento é de 30 anos. As taxas de juros variam entre 5% e 8,16%, conforme a faixa em que o consumidor se enquadra.
O enquadramento acontece de acordo com o orçamento. A faixa 1 atende famílias com renda de até R$ 1.800. O limite para a faixa 1.5 é de R$ 2.600 mensais, enquanto para a faixa 2 é de R$ 3.600. Para todas estas há subsídio do Governo para a compra do imóvel, além da possibilidade de financiamento com taxas de juros abaixo das praticadas no mercado. Já a faixa 3 possui o teto de enquadramento em R$ 6.500. Por meio dela, é possível utilizar recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), sendo que os juros cobrados também são menores.
Taxas, preços e prazos para todos os bolsos
O Sistema de Financiamento Habitacional (SFH) financia até 80% do valor do imóvel, que tem limite de R$ 950 mil para usados e de R$ 1,5 milhão para novos. O prazo máximo de pagamento é 35 anos. Obedecendo a algumas regras e requisitos, é possível que o comprador empregue recursos do FGTS ou poupança para a aquisição. As taxas de juros variam entre 9,9% e 13,5%.
Outras linhas também permitem o uso do FGTS no abatimento das prestações. A Pró-Cotista é utilizada para a compra de imóveis na mesma faixa de valor do SFH, mas possui possibilidade de financiamento de até 90%, juros de 9% ao ano e pagamento em, no máximo, 30 anos.
As linhas Carta de Crédito FGTS e Aquisição pelo FGTS também apresentam as mesmas possibilidades de crédito e quitação, com a diferença que a primeira é destinada à compra de até R$ 190 mil, com juros entre 5,64% e 8,47%, e a segunda é direcionada aos imóveis de até R$ 225 mil, e as taxas cobradas são a partir de 5,11%.
Poupança
O Sistema Brasileiro de Empréstimo e Poupança dá acesso ao comprador de usar recursos da poupança na hora de comprar a casa própria. As linhas do SFH, de Carteira Hipotecária (CH) e Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) entram no sistema. A Carteira Hipotecária pode ser usada para a aquisição de residenciais avaliados em mais de R$ 950 mil. As prestações podem ser divididas em até 35 anos, e os juros são de 10,9%. Nesta linha de crédito é possível financiar até 80% do valor total.
Os imóveis usados acima de R$ 950 mil e os novos a partir de R$ 1,5 milhão podem ser adquiridos pelo SFI. As condições variam de um banco para o outro. Em linhas gerais, o limite do financiamento é de até 80% do valor total, as taxas de juros ficam entre 11% e 12,25% por ano, e o prazo máximo para pagamento é 35 anos.
Até R$ 5 milhões
Também há oportunidade de crédito imobiliário para bens mais caros. A linha Taxa de Mercado do Bradesco permite o financiamento de até 80% de imóveis avaliados em até R$ 5 milhões. Os juros são de 11,7%, e o prazo para a quitação é de 30 anos. Nesta modalidade não é possível usar os recursos do FGTS.