Pesquisa alemã aponta os benefícios de ter um animal de estimação
Presença de um pet aumenta satisfação com a vida, reduz o estresse e a ansiedade e eleva a autoestima

O estudo The Value of Pets: The Quantifiable Impact of Pets on Life Satisfaction, que pode ser traduzido livremente para “O valor dos animais de estimação: o impacto quantificável dos animais de estimação na satisfação com a vida”, realizado pelo grupo germano-inglês Springer Nature enumera os vários benefícios que a companhia de um animal traz para a vida dos tutores, ou das pessoas que têm um convívio regular com ele.
A pesquisa, de março deste ano, apresenta esses benefícios em diversos segmentos, como, por exemplo, no quesito de satisfação com a vida. “Descobrimos que um companheiro animal aumenta a satisfação com a vida em 3 a 4 pontos em uma escala de 1 a 7”, diz o estudo.
Um dos principais aspectos analisados é o impacto do animal na saúde mental A convivência com um pet, e o simples ato de acariciá-lo, é capaz de provocar redução do estresse, diminuindo a pressão arterial e aliviando a ansiedade. Além disso, a companhia de um animal auxilia na diminuição do sentimento de solidão, sendo bastante benéfica para aqueles que moram sozinhos.
Cuidar de um animal também se qualifica como aspecto essencial para o aumento da autoestima, especialmente de crianças e jovens, já que a sensação de responsabilidade e satisfação é aumentada, elevando o valor que o tutor atribui a si próprio. O estudo apresenta ainda dados monetários relacionados à convivência com os animais: “Ter um animal de estimação vale até £70.000 por ano em termos de satisfação com a vida, semelhante aos valores obtidos na literatura para encontros regulares com amigos e parentes”, apontam os estudiosos.
‘Cuidar do amor de outra pessoa’
A veterinária Maysa Beatriz, em entrevista à Tribuna, destacou a importância de cuidar atenta e carinhosamente dos animais. “É um cuidado muito grande que precisamos ter quando vamos atender esses animais. Às vezes, o tutor precisa não só de um tratamento para o problema do animal, mas de atenção; conversar, falar sobre a própria vida e ressaltar o quão importante o animal é na vida dele. Temos a responsabilidade de cuidar do amor de outra pessoa.”
A profissional relata que muitos casos a comovem, como o de um coelhinho que ajuda diariamente na evolução de uma criança com TEA. “Atendi uma tutora que tem um coelho que estava passando mal. Ela relatou que estava muito preocupada, porque o animal era da filha, que é criança e está no Transtorno do Espectro Autista (TEA)”. Maysa contou como a família decidiu dar um animal para a criança: “Os médicos que tratam a menina indicaram um animal de estimação, e a mãe optou por adotar um coelho. Ela acabou ganhando dos médicos o coelhinho, que ajuda muito a filha; agora ela se alimenta melhor e apresentou uma grande evolução na fala, que era um ponto que os médicos queriam desenvolver no tratamento dela”, conta.
Conheça Einstein, o Shih Tzu terapeuta
Tatiana Diniz, 44 anos, é uma mulher com nanismo, autônoma e apaixonada por animais. Ela conta que já quis ser veterinária, mas acabou seguindo na área dos pets de outras formas. “Já tive um pet shop e até um hotel para cachorros. É incrível como os cães conseguem nos conectar com o mundo. Eles foram essenciais para que eu superasse os obstáculos da minha deficiência, enfrentasse o bullying e me tornasse uma pessoa melhor.”, relata.
E foi essa paixão que levou Tatiana a ganhar o Einstein, em 2012, como presente do seu pai. “Foi incrível o dia em que fomos buscá-lo no canil. Eu tinha acabado de perder outro cachorro, e o Einstein me deu forças para superar a perda do meu companheiro de quase duas décadas.”
Einstein é um cãozinho de 12 anos, da raça Shih Tzu, que, de acordo com a tutora, “teve uma carreira brilhante como cão terapeuta em grandes instituições de Campinas”. De 2014 a 2018, Einstein trabalhou em hospitais como o Hospital da PUC, Hospital das Clínicas da Unicamp, no Instituto Ser, no Hospital Ouro Verde e no Instituto Pro Visão.
A ideia de fazer do Einstein um ‘cão terapeuta’ partiu de Tatiana, que conheceu o trabalho por meio de uma publicação no jornal. “Inicialmente, passei por uma avaliação e, em seguida, meu cão foi submetido a um teste, para verificar se o animal é amigável, saudável e possui um comportamento equilibrado. Ele passou de primeira. Posteriormente, comprei um livro de adestramento e iniciei o treinamento em casa. Praticamos muito os comandos de cama, sabia que nos hospitais ele teria que executá-los, e funcionou perfeitamente. Einstein é um cãozinho dócil e obediente, fico orgulhosa em dizer que fui eu quem o treinou.”
Sobre a relação de Einstein com as crianças, Tatiana relata que era diversão garantida. “Elas adoravam o jogo de encontrar o petisco. A criança escondia o petisco na mão, Einstein o localizava pelo olfato e, em seguida, batia com a patinha na mão onde estava o petisco. As crianças também adoravam passear com o Einstein pelos corredores da pediatria, geralmente quando estavam prestes a receber alta.”
A tutora diz ter se comovido com muitos casos que viu, e que um a marcou profundamente: “Uma vez, uma mãe angustiada chegou chorando, dizendo que seu filho estava prestes a ser sedado e que ele tinha um cachorrinho igual ao Einstein, chamado Chokito,. Acompanhei a mãe até o quarto e coloquei o Einstein ao lado do menino. Começamos a falar sobre ele e o Chokito. A mãe se acalmou, o menino adorou a visita do Einstein e logo em seguida foi sedado e encaminhado para a UTI. Após uma semana, soube que, um dia após nossa visita, o menino faleceu. Ele tinha uma síndrome rara e a morte foi precoce, mas, naquele momento da sedação, senti que foi reconfortante para o menino e a mãe.”
No ano passado, após 17 anos em Campinas, Tatiana retornou à Juiz de Fora, que é sua cidade natal. “Recebo constantes elogios sobre o comportamento do Einstein e sempre destaco que ele é um cão terapeuta. Mesmo não atuando mais nos hospitais, ele carrega consigo muitas histórias inspiradoras em seu currículo de vida.”
Além de trazer bem-estar aos pacientes que visitou durante quatro anos, o cãozinho também melhora a vida da tutora diariamente: “Sempre digo que a melhor terapia é passear com meu cachorro e interagir com as pessoas. Isso faz bem para mim e, acima de tudo, para ele. Em resumo: ninguém está sozinho quando se tem um cachorro.”
*estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa