Mito do gato preto: entenda a origem e o reflexo na adoção de animais

Profissionais afirmam que superstição que associa o gato preto à má-sorte e aos maus presságios prejudica adoção


Por Anita Bianco*

04/05/2025 às 06h00

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Pesquisa revela que gatos pretos correspondem a 21% dos animais que aguardam adoção em ONGs do Brasil (Foto: Pixabay)

Os gatos pretos correspondem a 21% dos animais que aguardam adoção em Organizações Não Governamentais (ONGs) do Brasil, conforme levantamento realizado pelo Grupo Petlove no período de dezembro de 2022 a janeiro de 2023. Na maioria das vezes, eles foram resgatados sob condições de maus tratos e negligência.

As informações acendem o alerta para os reflexos do “mito do gato preto”, superstição que associa o animal à má-sorte e bruxaria. Desmitificar a crença contribui para combater a desinformação da sociedade, os maus tratos contra animais e, também, a incentivar que esses gatinhos encontrem um novo lar, onde possam ser acolhidos com afeto.

Azar só para quem não tem um gato preto em casa

Idealizador do projeto “O que te assombra?”, em Campinas, no estado de São Paulo, Thiago de Souza busca explorar a origem por trás de lendas urbanas, folclores e crenças presentes no imaginário coletivo. Ele explica como teve início o mito da relação entre gato preto e a má-sorte.“A superstição teve origem na Idade Média, quando se acreditava que os felinos, devido a seus hábitos noturnos, tinham parte com o demônio – e se o bichano era da cor preta, habitualmente associada às trevas, pior ainda.”

Ele destaca, também, a relação desses animais com as mulheres denominadas “bruxas” naquela época. “Havia a mística de que o bichano de pelagem escura era parente delas. Também se dizia que cada vez que se executava uma bruxa na fogueira, nascia um gato preto.” O especialista detalha que essa crença culminou na matança em massa de gatos, o que levou ao aumento irrefreável da população de ratos, contribuindo para a proliferação de doenças, como a peste bubônica.

Outra associação relacionada aos gatos de pelagem preta é o Halloween, quando são celebradas a festa das bruxas e “a volta dos mortos”. Por conta dessa crença, a veterinária Camila Cioffi alerta que não é recomendável a doação dos gatos pretos próximo à data do festival, 31 de outubro, ou sextas-feiras 13 . A razão, ela alega, são as práticas ritualísticas. “Pessoas supersticiosas e mal intencionadas costumam procurar esses animais para rituais”, explica.

Há, inclusive, um dia para conscientizar contra os maus tratos a esses felinos. O Dia Mundial da Conscientização pelo Gato Preto é celebrado no dia 27 de outubro. A data foi escolhida, justamente, por ser próxima ao Halloween, como forma de intensificar a conscientização das pessoas.

Esperança de um novo lar

A desconstrução da superstição relacionada à má-sorte vem acontecendo, como relata a veterinária Camila Cioffi. “Ainda vejo ressalva em adotar gatos pretos, principalmente em ninhadas com outras pelagens mais chamativas, eles costumam ser os últimos a serem escolhidos, mas acredito que a prática esteja diminuindo muito. Atualmente tenho atendido muitos gatinhos filhotes pretos adotados.”

Em Juiz de Fora, essa realidade também está sendo desconstruída, como informa a Secretaria de Bem-Estar Animal (Sebeal), criada em janeiro deste ano. Em nota enviada à Tribuna, a pasta destaca que “as adoções de gatos no Canil Municipal e nos eventos de adoção responsável são um sucesso, independente de cor ou raça”.

Riqueza, prosperidade, proteção e fama

Mas nem toda superstição envolvendo gatos pretos estão relacionadas a azar e mau presságio. “Na Escócia, existe a crença de que um gato preto na varanda de uma casa, traz riqueza e prosperidade pro lar”, pontua Camila Cioffi. “Na época das grandes navegações, há relatos de que os navegadores levavam gatos pretos na viagem para trazer sorte e proteção.”

Outra influência positiva, mais recente, é o sucesso do filme “Flow”. Protagonizado por um gatinho preto, a animação vencedora do Oscar deste ano conta a jornada do personagem em busca da sobrevivência em meio a obstáculos, que começam com uma enchente turbulenta. Tocados pela história do protagonista, muitas pessoas nas redes sociais apelidaram os gatos pretos de “Gato tipo Flow”.

A comoção causada pela animação tem precedentes, como ressalta a veterinária Maysa Beatriz.  “Os filmes com animais comovem bastante a população. Muitos ganham o nome dos personagens que foram inspiração para a sua adoção”, explica. “O filme que retrata a realidade de um gatinho preto em situação de rua não seria diferente. Acredito que ainda vai aumentar bastante a procura depois do sucesso desse filme.”

Na vida real, ela destaca as características dos felinos com pelagem escura. “Em sua maioria, eles são bem mais carinhosos e mais calmos. Também são muito protetores e apegados ao dono. Diferente dos gatos de pelagem amarela, que são extremamente bagunceiros e brincalhões, os pretos costumam ser mais quietinhos.”

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

 

 

 

 

 

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