Maratona de séries, Vol. 2

Por Júlio Black

Oi, gente.

Continuamos nossa pequena série sobre séries que assistimos nas últimas semanas e meses – sim, meses, aqui é trabalho e falta de tempo combinados. Como dá para perceber, temos privilegiado séries curtas em número de episódios, pois não dá mais para encarar vinte e tantos episódios cheios de fillers (enrolação, no bom português desconhecido por alguns ministros) ou aqueles lances procedurais com laboratórios forenses gringos que conseguem identificar o assassino até pela falta de banho.

Mas se tem uma coisa da qual não abrimos mão é a diversidade. Por isso, a coluna desta semana tem resenhas de séries japonesas em restaurantes (“Midnight Dinner: Tokyo stories”), ficção científica (“The Expanse”), adaptação de quadrinhos (“Preacher”), faroeste espacial que só dá para assistir nos Estados Unidos (“The Mandalorian”) e nós moramos no Brasil, sabe como é, ninguém entrega ninguém.

Além de ler nossas impressões, ficar animado – ou não – para assistir ou concordar/discordar se já tiver assistido, lembramos que a playlist da coluna está lá no Spotify com mais de 100 horas de canções para todos os estados de espírito. Basta procurar por “…E obrigado pelos peixes” e descobrir o verdadeiro sentido da felicidade.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Pê Esse: Ó, sexta-feira tem “Star Trek: Picard” no Prime Video, beleza? Todos os trekkers chora.

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The Mandalorian
Assim… Todo mundo sabe que “The Mandalorian” não estreou no Brasil, né? Mas então. “O Mandaloriano” salvou o 2019 de “Star Wars” depois do divisivo e polêmico “A Decepção Skywalker” (sim, a gente não gostou, apesar de não ser ruim feito filme do Michael Bay). Jon Favreau, o diretor dos dois primeiros “Homem de Ferro”, mostrou que não apenas entende o universo de “Guerra nas Estrelas”, mas também manja os paranauês da cultura pop e que é bom para contar histórias.

Vamos dizer que a série é 93% perfeita, com suas referências a faroeste, mangá (manja “Lobo Solitário”?), boas cenas de ação, ótimos personagens, ótimo elenco, trilha sonora perfeita de Ludwig Göransson e os primeiros cinco minutos da season finale, que dão uma surra em “A Ascensão Skywalker”.

E tem o Baby Yoda. O BABY YODA. Tem que ser muito mala pra colocar defeito na criaturinha. Que coisa cuticuti.

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Midnight Dinner: Tokyo stories
Demorou mais que encontrar poeira em alto mar, mas a Netflix liberou no final de outubro de 2019 a segunda temporada dessa pérola pouco conhecida, porém recomendada por nossa equipe lá em 2017. Para os incautos desavisados, “Midnight Dinner” tem como personagem principal o Mestre (Kaoru Kobayashi), dono de um restaurante em Tóquio que funciona da meia-noite até as sete da manhã. Ele tem apenas três ou quatro sugestões no cardápio, mas preparara qualquer prato que o cliente pedir se tiver os ingredientes à mão. E o restaurante é bem movimentado, com os frequentadores habituais mais a turma que eventualmente descobre o estabelecimento, que fica escondido num buraco qualquer da capital do país do Jaspion.

O grande barato de “Midnight Dinner” é colocar pequenos dramas pessoais no centro da história, acompanhados por pratos que dão vontade de preparar assim que terminam os episódios. São vários caminhos que se cruzam, como os amigos que não se veem há anos, a modelo que teme a decadência por conta da idade, o barbeiro que enfrenta a tentação do adultério, as aspirantes a dubladoras que tomam caminhos diferentes, o cineasta que sonha terminar o filme do pai. Para fechar, ainda ganhamos um pequeno vislumbre do passado do Mestre, um mistério da série.

Se duas temporadas forem pouco, avisamos que “Midnight Dinner” teve três temporadas produzidas originalmente para a TV nipônica entre 2009 e 2014, com vários atores do elenco atual, e que está disponível no Arte 1. Só não sei em qual dia e horário, se são as três temporadas, porque descobri por acidente numa dessas madrugadas.

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Preacher
Adaptar para a TV um dos melhores quadrinhos dos anos 90, estrelado por um pastor que perdeu a fé em Deus, ganhou o dom da Palavra e decidiu procurar o Todo-Poderoso só para cobrar dele o motivo de ter abandonado o Paraíso, é pauleira, ainda mais que “Preacher” tinha momentos inacreditáveis de blasfêmia, violência, deboche, ironia, sexo bizarro, depravações, escatologia e humor negro.

Quatro temporadas depois, podemos dizer que a série teve seus altos e baixos, ainda que acima da média. Infelizmente, se pensarmos na genialidade da HQ, ela não teve o mesmo impacto no universo da televisão, não sei se pelo excesso de opções, pelo tema, falta de divulgação ou… porque não era tão genial quanto a saga criada por Garth Ennis e Steve Dillon.

Mas valeu a pena. Tudo o que gostávamos nos quadrinhos estava lá, juntando elementos da HQ ao mesmo tempo que criava novos rumos para os personagens. Talvez o grande problema da última temporada tenha sido o estranhamento entre os momentos de humor negro com aqueles mais dramáticos, o que não tira o brilho de “Preacher”.

Muito se deve, claro, ao elenco, um dos melhores que tivemos na TV neste século: Dominic Cooper (Jesse Custer), Ruth Negga (Tulip), Joseph Gilgun (Cassidy), Ian Colletti (Eugene/Arseface), Mark Harelik (Deus), Noah Taylor (Hitler), Julie Ann Emery (Featherstone), Tyson Ritter (Jesus e Humperdoo), Graham McTavish (O Santo dos Assassinos) e, principalmente, Pip Torrens, que esteve assombroso como Herr Starr, um dos personagens mais desprezíveis, cômicos, depravados e insanos da televisão.

Foi um final melancólico, porém perfeito para nos deixar com saudades de figuras que dificilmente encontram comparação na telinha.

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The Expanse
Ah, como ficamos felizes quando a Amazon anunciou que daria prosseguimento à série, que depois de três temporadas foi cancelada pelo SyFy (aqui chegou via Netflix). “The Expanse” é uma das melhores séries de ficção científica da televisão, e seria um pecado não termos a continuidade da adaptação da série de livros de James S. A. Corey – que, por enquanto, só teve “Leviatã desperta” traduzido para o português.

Mas vamos lá. A quarta temporada mostra o quarteto de protagonistas audaciosamente indo aonde (quase) ninguém jamais esteve, depois que o encerramento do ano três literalmente abriu milhares de possibilidades. Antigos conflitos são mais aprofundados, e outros plots, acrescentados à história, colocando vários personagens em novos desafios.

Assistimos aos dez episódios voando, pois está tudo perfeitinho na história: roteiro, efeitos especiais, elenco, motivações dos personagens, conflitos, reviravoltas. Para quem já acompanhava, está lá no Prime Video; para quem ainda não conhecia ou estava com preguiça, todas as temporadas migraram para a plataforma de streaming.

Júlio Black

Júlio Black

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