Os professores Thayane Viana e Diogo Tomaz retratam “perrengues” nada chiques das aulas remotas em livro infantil

Por Marisa Loures

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Thayane Viana e Diogo Tomaz inspiraram-se em experiências reais para a produção de “Vai ter aula?”, estreia dos dois na literatura – Foto acervo pessoal

“Vai ter aula?” (Paratexto, 28 páginas). Bastou o ensino migrar para o ambiente virtual para os alunos começarem a fazer a pergunta que dá título ao livro infantil lançado pelos professores, e agora escritores, Thayane Viana e Diogo Tomaz. Essa dupla retrata, de maneira bem-humorada, “os ‘perrengues’ nada chiques das aulas remotas”. E é fato que crianças e adultos vão se divertir e se identificar com vários dos momentos hilários relatados na obra.

“Nós já tínhamos em mente o que queríamos do livro. A ideia era tratar de forma leve e cômica esse período tão difícil pelo qual estamos passando. O livro é todo inspirado em fatos reais, inclusive, alguns personagens e nomes que estão nele também. A primeira coisa que fizemos foi separar os casos mais engraçados, tanto de professores quanto de alunos. Depois eu criei uma série de rascunhos com os principais casos que achávamos que poderiam aparecer no livro. Fizemos uma seleção daqueles que melhor se encaixavam na história que tínhamos em mente e comecei a desenhá-los. As ilustrações dos ‘perrengues’ vieram primeiro que o texto. Quando elas ficaram prontas, nós começamos a construir o enredo e o título. Inclusive, este surgiu da constante indagação dos alunos sobre o retorno presencial. E a minha resposta era sempre a mesma: ‘estamos tendo!’”, conta Diogo, que também assina as ilustrações.

Thayane e Diogo são noivos. Ela é formada em pedagogia, possui pós-graduação em Educação e trabalha com educação infantil. Ele é Historiador e cocriador do podcast História Nerd. Apesar de estrearem somente agora na literatura, o sonho de fazerem um livro em parceria é antigo. Diogo desenha desde criança. Durante a pandemia, criou uma série de tirinhas sobre um professor que passava por vários ‘perrengues’ nas aulas remotas e começou a compartilhá-las no Instagram (@arte.dio). Thayane travou um contato mais próximo com a literatura voltada para o público infantil na faculdade e é encantada por ler e contar histórias. De conversa em conversa para troca de figurinhas a respeito do ensino remoto, nasceu “Vai ter aula?”. Não restam dúvidas de que este momento está sendo muito inspirador. Afinal de contas, casos de “perrengues” não faltam.

– Poderiam compartilhar conosco alguns dos momentos de humor que aconteceram com vocês em sala de aula virtual?

Diogo – Eu passei por várias. E o mais engraçado é que todas elas estão gravadas. Durante uma aula, estava escorado no braço da cadeira e ele quebrou. Como estava de fone, ele puxou o notebook e fomos todos para o chão (ao vivo para mais de 30 alunos). Outra vez, achei que já tinha desligado a câmera e troquei de camisa na frente do notebook. A câmera estava gravando e, para minha sorte, os alunos já haviam saído da sala on-line.

Thayane – Já tive problemas com os barulhos externos. Gravava vídeos/áudios e, frequentemente, saía som do carro do ovo, do abacaxi, do gás, do churros… As crianças morriam de rir disso!E também achava que estava gravando, mas depois de bons minutos percebia que não tinha apertado o botão de iniciar a gravação.

– Thayane, esta é a sua estreia e a do Diogo na literatura. Você é professora da Educação Infantil, ou seja, já tem experiência com o público de “Vai ter aula?”. Lidar, diariamente, com crianças, contar e ler histórias, ajudou na hora de escrever um livro para elas?

Thayane – Com certeza! O contato diário com a literatura infantil, somado aos momentos prazerosos de leitura e contação de história na roda com os pequenos, me mostraram o quão importante é o papel dos livros na formação de leitores. Percebia que as crianças se interessavam mais sobre as histórias semelhantes ao seu cotidiano e aquelas com situações divertidas. Resolvemos, então, criar algo que fizesse essa junção.

– Tiveram algum autor como referência?

Diogo e Thayane – Quando pensamos em referência, lembramos daquelas autoras de livros infantis da nossa cidade, que nos incentivaram, como a Juliana James e a Ellen de Paula Moreira; também que nos inspiraram, como Margareth Marinho e Magda Trece. Com elas, percebemos que esse nosso sonho estava ao nosso alcance!

– Diogo, além de dividir a autoria do texto com a Thayane, você é o responsável pelas ilustrações. Quais foram as suas preocupações ao criá-las, considerando que o público-alvo é o infantil?

Diogo – Como eu disse, as ilustrações vieram primeiro. Todos os “perrengues” do livro, realmente, aconteceram comigo, com a Thayane, com alunos ou amigos professores. Os grupos de WhatsApp das escolas em que trabalhamos foram um celeiro de ideias, ali sempre compartilhávamos algumas coisas que aconteciam com a gente ou que víamos acontecer com outras pessoas.Desde o início, eu queria criar ilustrações onde houvesse uma identificação. Onde quem estivesse lendo pudesse olhar e pensar: “aconteceu a mesma coisa comigo” ou “conheço alguém que passou por isso”. Durante todo o processo criativo, levei em consideração que a leitura das imagens antecede à leitura das palavras, por isso, todas ilustrações que criei sugerem mais do que está no texto. Meus desenhos são muito inspirados nos traços da Turma da Mônica e a forma didática como expressam situações e emoções.

– “Vai ter aula?” chega aos leitores pelo Pluri, selo de autopublicação da Editora Paratexto. Por meio dele, o autor investe e publica seu próprio livro. Se, com a autopublicação, o autor não precisa ser escolhido por uma editora, por outro lado, ele é quem tem que investir no próprio marketing. Quais são as estratégias de vocês para fazer o livro circular?

Thayane – As redes sociais foram fundamentais para a divulgação. Em menos de duas semanas, havíamos vendido todos os 100 exemplares da pré-venda. Criamos postagens no Instagram, Facebook, grupos de WhatsApp… em todas as plataformas possíveis. Vale destacar que algumas escolas adquiriram exemplares para possíveis projetos com as crianças. Outro diferencial foi a entrega. Nós fizemos questão de entregar todos os livros que vendemos aqui em Juiz de Fora, cada um deles tinha uma dedicatória. Mesmo de longe, foi bacana rever parentes, amigos e alunos que não víamos desde o início da pandemia.

– O livro começa com “De repente, o mundo parou”. E foi isso o que, realmente, aconteceu. E muito se discute não só a respeito da exposição contínua à tela do computador, impactando a saúde das crianças, mas também sobre o retrocesso na aprendizagem. Como vocês avaliam esse momento?

Diogo e Thayane – Avaliamos como um momento muito delicado e que escancarou ainda mais os problemas educacionais do nosso país. Mas não temos dúvidas de que, toda a comunidade escolar está se dedicando ao máximo para reduzir qualquer impacto negativo no processo de aprendizagem.

– O que acham que mais vai ficar deste período? Os perrengues ou os momentos de interação e aprendizado?

Diogo – Não temos como saber quando isso tudo vai acabar ou se em breve as aulas voltarão como antes, mas, mesmo passando por vários “perrengues”, por um acúmulo de atividades, funções e responsabilidades, acreditamos que a interação e o aprendizado ficarão marcados positivamente.

– Há planos de vir mais livro por aí?

Thayane – Olha, “perrengues” não faltam! Depois que publicamos o livro, vários professores nos procuraram para contar os seus relatos. Com certeza, temos conteúdo para um volume 2, 3… E, com a possibilidade do retorno das aulas no modelo híbrido, acredito que novos “perrengues” surgirão.

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“Vai ter aula? – Os ‘perrengues’ nada chiques das aulas remotas”

Autores: Thayane Viana e Diogo Tomaz

Ilustrações: Diogo Tomaz

Editora: Paratexto (28 páginas)

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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