O Primeiro de Seu Nome

Por JÚLIO BLACK

Oi, Antônio.

Ainda vai demorar um bom tempo até você aprender a ler, mas eu precisava dizer, hoje, um pouco do que passou pela minha cabeça desde o dia em que A Leitora Mais Crítica da Coluna chegou na cozinha de nosso antigo apartamento, numa manhã de outubro de 2015, e disse que estava grávida, mudando de forma irreversível nossas vidas.

Porque colocar um filho no mundo não é fácil, principalmente porque nossa espécie é capaz de matar por religião e/ou preconceito; entupimos nosso planeta de lixo; votamos em políticos que defendem torturadores; exploramos o próximo. Qual o sentido de botar mais uma vida em uma esfera rochosa cujos habitantes mereciam a visita de um asteróide do tamanho de Luxemburgo?

Mas a vida não se resume apenas às coisas ruins. “Sempre olhe para o lado positivo da vida”, já cantava o Monty Python em “A vida de Brian”. Há muita coisa boa por aí, como o amor que eu e A Leitora Mais Crítica da Coluna temos um pelo outro e a certeza de que seríamos capazes de fazer o melhor para você ser não apenas feliz, mas um ser humano bom, decente. Você terá uma família excepcional, com avós amorosos, mesmo que Herberto faça falta imensa. E tios e tias que vão te amar até dizer “chega”, e primos, nossos queridos amigos e seus futuros amigos também. E o Imperador Django. E eu poderei contar para você como sua bisavó Neném e seu bisavô Joaquim foram dois dos melhores exemplos que já tive, e o quanto que eu gostaria que eles pudessem estar aqui.

Mas a verdade, meu pequeno, é que estou ansioso desde sempre para te apresentar a um mundo inteiro de cultura, que faz parte do melhor que a humanidade pode oferecer. Dizem que não devemos criar expectativas quanto à nossa descendência, mas fica difícil controlar a ansiedade quando a fonoaudióloga diz ser importante colocar a criança para ouvir música desde o nascimento a fim de estimular a fala, vocabulário, expressão, mil coisas. Boa desculpa para colocar na vitrola o Radiohead, U2, R.E.M., Pato Fu, Manic Street Preachers, Arcade Fire, John Coltrane, Pixes, Kraftwerk, Legião Urbana, Wander Wildner, Leonard Cohen, Björk, Jesus and Mary Chain, The Cure, Slayer, The Smiths, Chemical Brothers, Rush, Nirvana, Beatles, Chico Buarque, System of a Down, Jens Lekman, Morrissey, Foo Fighters, Midnight Oil, Flaming Lips, Autoramas… Vai ter até música de criança, acredite.

Mais para frente teremos cinema também. A Trilogia das Cores de Kieslowski, o Woody Allen que eu e a Leitora tanto amamos, os clássicos de Kubrick, o universo gótico de Tim Burton, as loucuras de Terry Gilliam, “Star Trek”, “Star Wars”, todos aqueles desenhos legais da Pixar, as atuações arrebatadoras de Daniel Day-Lewis, “Adeus, Lênin”, “Táxi driver”, “O poderoso chefão”, Orson Welles, Chaplin, Lars von Trier, “Alien”, “Apertem os cintos, o piloto sumiu”, “Alta fidelidade”, Spielberg, “Trainspotting”, “Círculo de Fogo”, “Edukators”, “Sonhos de Akira Kurosawa”, “Rashomon”, “O Clube dos Cinco”, “Curtindo a vida adoidado”, “De volta para o futuro”, “Asas do desejo”. E Quentin Tarantino, claro!

Haverá muito para se ler, também, Albert Camus antes e acima de tudo. Principalmente “O estrangeiro”, o livro que não digo que mudou minha vida, mas ajudou a percebê-la de outra forma. Paul Auster e seu “Desvarios no Brooklyn”, que conheci graças à Leitora Mais Crítica da Coluna. E alguns dos preferidos dela, como Rubem Fonseca, Walt Whitman, Haruki Murakami, Chuck Palahniuk, Virginia Woolf, Isabel Allende. A lista, Antônio, é bem variada, e inclui Umberto Eco, Nick Hornby, Dostoiévski, Eça de Queiroz, Machado de Assis, “Moby Dick”, Kafka, Neil Gaiman.

Neil Gaiman escreveu livros fabulosos como “Deuses americanos” e “O oceano no fim de caminho”, mas também é o criador da HQ “Sandman”. Quadrinhos, inclusive, não faltarão em nossa casa, e você poderá ler outros caras igualmente geniais como Allan Moore, Grant Morrison, Warren Ellis, Garth Ennis, Stan Lee. É “O Cavaleiro das Trevas”, “Planetary”, “Authority”, “Patrulha do Destino”, “V de Vingança”, “Watchmen”, “Homem-Animal”, “O Reino do Amanhã”, “Do Inferno”, “A piada mortal”, “Preacher”, “Monstro do Pântano”, “A queda de Murdock”.

Eu poderia terminar a coluna da semana com um desses parágrafos piegas, dizendo que “não importa seus gostos, papai e mamãe vão te amar mesmo assim e vamos buscar os três pontos”, mas prefiro encerrar da maneira tradicional, desejando para ti, Primeiro do Seu Nome, uma vida longa e próspera.

E obrigado pelos peixes (Não entendeu, Antônio? Vá ler Douglas Adams, moleque!).

Epílogo

A coluna entra em recesso para cuidarmos do herdeiro. Retornamos em agosto.

Júlio Black

Júlio Black

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