“Star Trek: Picard”, uma boa série com final “ó”

Por Júlio Black

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Oi, gente.

O anúncio de “Star Trek: Picard”, a nova série de “Jornada nas Estrelas”, pegou geral no contrapé. Patrick Stewart, o glorioso ator inglês que interpretou o capitão Jean-Luc Picard nas sete temporadas da “Nova Geração” e em quatro filmes, é um senhorzinho beirando os 80 anos e há quase duas décadas havia deixado a cadeira de comando da USS Enterprise. Mas a notícia deixou muitos felizes, pois o careca francês é o comandante de nave estelar preferido de muitos.

Também vieram as dúvidas: como vai ser? Stewart está com 79 anos de idade, não vai sair na porrada com ninguém; simplesmente colocá-lo de volta no comando da Enterprise seria muito óbvio. E com qual tripulação? A maioria do elenco original está com mais de 50 ou 60 anos, não daria para acreditar que a principal nave da Federação seria comandada por tiozinhos – até porque eles deveriam estar em casa para não pegar o coronavírus. Picard comandando uma nova geração de oficiais? Hmmmm… não.

Por sorte, a série – parceria da CBS com o Prime Video – resolveu partir por outro caminho, que rendeu uma primeira temporada legal e um segundo ano já garantido. Como já escrevemos demais e o assunto renderia páginas e páginas, vamos tentar resumir os principais pontos por tópicos.

E já avisamos: VAI TER SPOILER, ok?

O CÂNONE. “Star Trek: Picard” mostra o antigo capitão da Enterprise, agora um almirante reformado. Ele deixou a Federação depois que um grupo de seres sintéticos (como o androide Data) cometeu genocídio em Marte, matando milhares (milhões?) de pessoas, e a Federação usou como uma das desculpas para deixar de ajudar os romulanos, que tiveram seu planeta natal destruído por uma supernova. Ou seja: OS FATOS DE “STAR TREK”, O FILME DE 2009, SÃO CANÔNICOS. Chorem, haters xiitas.

PATRICK STEWART E PICARD. “Sir Pat” é um dos atores mais amados pelos fãs, o melhor dentre os protagonistas de todas as séries da franquia. Para voltar, só aceitaria se houvesse um desafio, e ele está lá. Um grande incômodo era ver os fãs tratando “JL” como a quintessência de perfeição humana, e “ST: Picard” mostra que o comandante francês não é perfeito o tempo todo, assim como vimos no filme “Primeiro contato”. Ele é capaz de cometer erros, ser imprudente, carregar mágoas, arrependimentos, e pagar o preço pela teimosia. E precisa lidar com o peso da idade, a irrelevância que muitas vezes chega com a velhice.

UM FUTURO MENOS OTIMISTA. A série original de “Star Trek” mostrava um futuro utópico, reforçado com a “Nova Geração” quando um grupo de humanos do século passado descobria no século XXIV que não havia guerras, fome, doenças, que as pessoas não buscavam posses e sim evoluírem como pessoas. Muita gente reclamou da nova série por mostrar um futuro menos otimista. Da minha parte, prefiro pensar que “Picard” é fruto da sua era, em que temas como o preconceito, xenofobia, populismo, fake news, negação à ciência ditam o cotidiano. E é sempre bom lembrar que nada é eterno, nem a tal evolução interior do ser humano. Ah, e desde “Deep Space Nine” sabemos que a Federação não é santa.

A TRAMA. A primeira temporada, com a apenas dez episódios, segue a linha de “Discovery”: uma trama principal percorrendo todos os capítulos, com plots secundários. No caso, uma grande conspiração envolvendo os romulanos, a proibição dos sintéticos, e Picard tentando descobrir, sem a ajuda da Federação, o que levou os romulanos a querer destruir todo tipo de vida artificial. Nada de “o planeta da semana”. Dessa forma, uma boa história que ficaria espremida em 50 minutos ganha corpo. O preço é termos menos tempo para conhecermos os personagens novos em episódios “temáticos”, mas já deu para saber o essencial sobre essa galerinha recém-chegada.

PERSONAGENS NOVOS E ANTIGOS. A série conta com vários novos personagens, e os melhores deles são a Raffi (Michelle Hurd), que foi subordinada a Picard na Federação, e o capitão Rios (Santiago Cabrera), dono da nave alugada por Jean-Luc. Não gostei do Elnor (Evan Evagora), parecia uma versão abobalhada do Legolas. Os vilões, então, totalmente descartáveis. Dos personagens antigos, foi legal ver Riker (Jonathan Frakes) e Troi (Marina Sirtis) de volta, mas principalmente a Sete de Nove (Jeri Ryan), estamos fazendo coraçõezinhos com a mão para ela até agora. O mais emocionante, porém, foi ver Data (Brent Spinner) tendo um desfecho digno, ao contrário daquela morte estúpida em “Nemesis”. E ainda tivemos um cubo borg!!!

MAS O FINAL… A primeira temporada ia muito bem até o episódio final: efeitos especiais de primeira, história com mistério e peças soltas que iam se juntando aos poucos, uma grande ameaça. Mas aí vem “o problema Stephen King”, e não souberam como terminar a história. Dedicaram pouco tempo à sua resolução, com tudo corrido, Riker assumindo o comando de uma frota de naves mesmo aposentado, uns bichos passando por uma fenda e dando meia-volta, um plano capenga com uma bola de futebol, os romulanos e suas 218 naves desistindo de exterminar os sintéticos “porque a profecia não se realizou”, ah vá.

MAS TEM MAIS. Gente, se tem algo que não suporto são mortes descartáveis, e ainda mais quando a pessoa morre e volta depois. Estava mais que na cara que, se o Picard morresse, ele voltaria; como fazer uma nova temporada sem o protagonista? Eles deram a dica em várias oportunidades, com a tal história do golem, a doença cerebral do protagonista. Mataram “o” personagem da série para termos um “robô Picard”? Parou, né?

O retorno de Jean-Luc Picard à telinha, apesar dos senões, deixou todo mundo feliz – ou pelo menos a maioria dos fãs. “Star Trek”, quando é bom, nunca é demais, e essas tentativas de novos rumos, a exemplo do que já vimos em “Discovery”, só ajudam a atrair novos fãs e manter o universo imaginado por Roddenberry audaciosamente indo aonde jamais esteve. Se tivéssemos que dar uma nota de zero a dez Capitães Kirks gritando “Khaaaaaannnn!!!”, a nossa nota seria sete.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Cena pós-créditos:

Devido ao coronavírus, nossas férias foram antecipadas e desfrutaremos o ócio a partir desta quarta-feira (1º). No momento, o mais importante é ficarmos em casa, com as pessoas que amamos. Estarei devidamente isolado com A Leitora Mais Crítica da Coluna; Antônio, o Primeiro de Seu Nome; e o Imperador Django. Não há dinheiro no mundo que pague a saúde dos nossos entes queridos.

Se tudo der certo, voltaremos em maio.

#fiqueemcasa

Júlio Black

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