Garzón Balasto: a Arma Secreta do Uruguai

É nos menores frascos que encontramos os melhores... vinhos? Fique por dentro da belíssima e moderna vitivinicultura do Uruguai e, de quebra, descubra a grande arma secreta do país: o ícone Balasto, da Bodega Garzón.

Por Ana Cristina Mokdeci

Prezado “Enoleitor”:

Se você é um apreciador de vinhos, provavelmente já teve a oportunidade de experimentar um exemplar do Uruguai. Se ainda não provou, sugiro que corrija esse deslize o mais rápido possível, pois você não sabe o que está perdendo. Mas fique tranquilo, estou aqui para te ajudar. Vou te deixar por dentro do cenário atual dos vinhos do pequeno grande país e, de quebra, vou te apresentar a sua maior arma secreta: Balasto, da Bodega Garzón. Chegaremos lá.

Perto dos “irmãos maiores”, Chile, Argentina e Brasil, seu porte minúsculo parece não oferecer muito perigo para a concorrência. Contudo, a sabedoria popular há tempos proclama: é nos menores frascos que encontramos os melhores… vinhos? Já adaptando a ideia, considero esta máxima perfeita para resumir a vocação vitivinícola do Uruguai, a arma secreta da produção de vinhos da América Latina.

Com seu clima temperado e de influência oceânica e solos de composições variadas, como argila, calcário e granito, espalhados por colinas e planícies, o terroir uruguaio permite uma maturação completa e sadia das uvas, o que garante a produção de vinhos de altíssima qualidade e de estilos variados. E, talvez pela herança deixada pelos colonizadores europeus, os vinhos uruguaios remetam mais aos estilos produzidos no Velho Mundo, esbanjando elegância, sutileza e precisão.

Dentre as castas mais plantadas, estão a tannat, que já se consagrou como a mais emblemática do país, moscatel, merlot, pinot noir, ugni blanc, cabernet franc, marselan, sauvignon blanc e, é claro, a sensacional alvarinho.

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Vista aérea dos vinhedos (fonte: site Bodega Garzón)

Um dos maiores diferenciais adotados pelos produtores uruguaios é a tecnologia do georreferenciamento. A palavra é difícil, mas a ideia é simples: todos os vinhedos uruguaios são catalogados e rastreados por equipamentos ultramodernos. São utilizados filtros de catalogação por variedade, por ano de implantação, pelo número do vinhedo. É um trabalho inovador e minucioso, que auxilia no controle da produção como um todo, tanto em quantidade quanto em qualidade.

Seguindo a tendência moderna observada no mundo inteiro, no Uruguai, está em alta a produção de “vinhos de terroir”, com mais expressão de fruta, mais frescor, mínima intervenção, baixo teor alcoólico e prontos para o consumo. Nota-se também o aumento de produtos mais modernos e disruptivos, como claretes, pet nats e até um vermute de tannat, o Vermut Flores (fica a dica!).

Apesar do seu pequeno território, o Uruguai abriga mais de 900 produtores de uvas, plantadas em cerca de 6 mil hectares de vinhedos. 16 dos seus 19 estados contam com áreas de cultivo, sendo as principais regiões produtoras Montevidéu (Canelones e San Rose), Colonia (Rio Negro e Soriano), Maldonado e Rivera.

No departamento de Maldonado, encontra-se uma das vinícolas mais tradicionais e conceituadas do Uruguai, a Bodega Garzón. Localizada próxima a pontos turísticos badalados, como Punta del Este e La Barra, o belo e imponente complexo, inaugurado em 2016, é um dos destinos mais procurados pelos enoturistas.

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Receptivo da vinícola, em Maldonado, Uruguai (fonte: site Bodega Garzón)

A vinícola foi fundada pelo argentino Alejandro Bulgheroni e pertence ao seu Grupo Agroland, uma gigante dos empreendimentos agrícolas e imobiliários, que atua em vários países do mundo. Na Argentina, para você ter uma ideia, o empresário é proprietário de duas outras vinícolas: Vistalba e Argento.

Os primeiros 2.500 hectares adquiridos por Bulgheroni, em 1999, não foram destinados à implantação de vinhedos. Estes só vieram a fazer parte da paisagem a partir de 2008, após a chegada do consultor italiano Alberto Antonini, “recrutado” para descobrir o potencial vitivinícola da área.

E veja você, descobriram uma mina de ouro (ou melhor, de vinho) por lá. Apesar de ainda bastante jovem, a Garzón já coleciona premiações internacionais importantes, como o prêmio de Melhor Vinícola do Novo Mundo em 2018, concedido pela Wine Enthusiast e, mais recentemente, emplacou o sexto lugar no ranking das melhores vinícolas do mundo, patrocinado pela World’s Best Vineyards.

A estas alturas, você deve estar se perguntando: afinal, o que justifica esse sucesso vertiginoso? Essa Superstar do Uruguai possui vinhos tão bons assim?

Eu já respondo, sem medo de errar: SIM. E tenho bons argumentos.

Os parreirais de Garzón estão plantados num local muito privilegiado. A geologia da região faz parte do Embasamento Cristalino, que deu origem aos solos mais antigos do planeta, há mais de 2.500 milhões de anos. Devido às alterações e degradações geológicas ocorridas com o passar dos anos, um solo de rocha de granito meteorizado se formou e hoje é parte fundamental do DNA dos vinhos lá produzidos: o balasto.

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Christian Wyllie, CEO Bodega Garzón (foto da autora)

Christian Wyllie, o CEO da Bodega, explica as particularidades e vantagens do solo milenar.  “Ela (a rocha) é muito particular porque quando você a toca, ela se despedaça e é exatamente isso que as raízes da planta conseguem: rompê-la, para, assim, se aprofundarem. O solo tem uma excelente drenagem e permeabilidade. Ele confere mineralidade ao vinho, que nada mais é do que um caráter etéreo, uma leveza”, ele comenta, com orgulho.

Nada mais justo, portanto, que o grande ícone da bodega carregue o nome desse solo tão especial. Balasto é um vinho ímpar. Se o Uruguai é a “arma secreta” da produção de vinhos da América Latina, Balasto é a “arma secreta” da Garzón. Ele é a epítome, o símbolo maior da excelência dos vinhos produzidos pela vinícola. E, abrindo aqui um parêntese, tenha certeza, nem todos os produtores de vinho do mundo têm condições naturais tão singulares para confeccionar um vinho desse naipe. Ou até mesmo recursos financeiros e uma equipe de profissionais experientes e talentosos, já que estamos sendo honestos.

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(foto da autora)

Este exclusivo rótulo é um blend das melhores castas tintas plantadas na vinícola e é produzido somente em anos excepcionais, quando o universo conspira a seu favor. Além de levar em consideração o comportamento de cada casta num determinado ano, as eleitas para compor o assemblage provêm das melhores parcelas de vinhedos. Na Garzón, cada variedade é cuidadosamente plantada no local que melhor atende às suas maiores necessidades, levando-se em consideração as horas de exposição solar, a inclinação, a composição do solo, os ventos, dentre outros fatores.

E agora, peço licença para me gabar, amigo enoleitor. Com orgulho, fiz parte de um seleto grupo de profissionais e jornalistas que degustou o Balasto 2020 em primeira mão, este mês, em São Paulo. O CEO da bodega, Christian Wyllie, veio conduzir degustações exclusivas, que marcaram o pré-lançamento mundial do vinho, aqui no Brasil, considerado um dos 3 principais mercados da empresa uruguaia. O vinho estará disponível para o consumidor brasileiro a partir do dia 13 de setembro, um dia após uma honraria: o seu lançamento oficial na Place de Bordeaux, o maior sistema de distribuição de vinhos premium da Europa. Balasto é o único rótulo uruguaio a fazer parte desse rol.

Eu e Wyllie
Eu e Christian Wyllie (foto da autora)

A chegada da safra 2020 ao mercado foi ansiosamente aguardada. Desde 2015, ano do seu “nascimento”, todos os anos subsequentes tiveram a sua edição, com exceção de 2019, que se revelou impróprio para a plena maturação da tannat, a casta base da assemblagem do vinho. 2020 foi considerada a melhor safra da história do Uruguai. Seca e fresca, proporcionou vinhos mais elegantes, mais equilibrados. “Balasto sempre busca elegância e equilíbrio, busca transcender”, comenta Christian. “Não queremos surpreender por nossos músculos, mas sim, pela graça. Exatamente como uma bailarina: lindas, graciosas, imponentes – assim é Balasto”.

A missão recaiu sobre o competente enólogo Germán Bruzzone: produzir a melhor versão da menina dos olhos da casa, até o momento. A meu ver, para Germán, missão dada é missão cumprida. O intuitivo e experiente enólogo e sua equipe formataram um blend com 42% de tannat, 39% de cabernet franc e 19% de petit verdot. Todas colhidas à mão, passaram por um processo de seleção cuidadoso. O protocolo de vinificação segue a filosofia da menor intervenção possível, para preservar, ao máximo, as características típicas do terroir. A fermentação é feita em tulipas de cimento e o vinho amadurece, por 20 meses, em grandes tonéis de carvalho francês, sem tosta. O vinho é então envasado sem ser submetido à filtração, o que preserva sua complexidade e seus finos aromas.

taca Balasto
(foto da autora)

Ao degustar Balasto, podemos entender a seriedade, a obstinação e a competência dos produtores uruguaios. Ele encanta por sua elegância, frescor, precisão e exuberância. Identifiquei notas de frutas vermelhas e pretas frescas, especiarias e balsâmico, arrematadas por uma textura suculenta e aveludada em boca, uma sedutora e etérea mineralidade e um final longo e vibrante. Seus inúmeros atributos formam um conjunto inesquecível para os sentidos e tentar colocar em palavras todo o prazer e encantamento que proporciona é uma missão fadada ao insucesso. Para compreender Balasto, você precisa senti-lo.

Um detalhe importante. Este vinhaço está pronto para o consumo, mas, se você pertence ao time dos que preferem a experiência de vinhos mais evoluídos, não se preocupe, ele não te decepcionará. Pode guardá-lo, tranquilamente, para comemorar os 18 anos do filho recém-nascido!

Finalizando o nosso papo de hoje, deixo para você duas dicas.

Além dos rótulos da linha premium, que inclui os maravilhosos Petit Clos varietais, também recomendo os vinhos de entrada. São todos muito bem-feitos e de boa relação qualidade x preço (nossos bolsos agradecem!). Mas se eu puder te fazer uma sugestão, indico, de olhos fechados, os Albariños.

Garzon Alvarinho
Garzón Single Vineyard Albariño 2022 (foto da autora)

A alvarinho é a casta branca de maior êxito da vinícola, sendo a Garzón o principal produtor de toda a América. No Uruguai, as condições se assemelham às da Galícia, na Europa, terra de origem da variedade. Com a influência do Oceano Atlântico, o clima frio, a incidência de chuva e granito, os alvarinhos são muito frescos e gastronômicos (inclusive, harmonizam muito bem com ostras). Possuem uma acidez natural muito alta e apresentam notas salinas, florais e cítricas.

O Albariño Single Vineyard, meu preferido, tem uma particularidade: é fermentado em tulipas de cimento, o que proporciona uma maior oxigenação, fazendo com que o vinho ganhe complexidade. Lindo!

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Wine Bar (fonte: site Bodega Garzón)

A minha segunda dica seria: tendo oportunidade, vá visitar a vinícola. “The wine always tastes better at the winery” (o vinho tem um gosto melhor na vinícola), segundo Wyllie. In loco, é possível desfrutar da experiência sensorial completa e compreender todas as nuances e riquezas do extraordinário terroir e, consequentemente, todo o universo dos magníficos vinhos uruguaios.

Em tempo: Garzón chega ao Brasil pela importadora La Pastina.

Saúde! Obrigada pela sua atenção e até a próxima!

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Complexo da bodega, ao pôr do sol (fonte: site Bodega Garzón)

 

 

Ana Cristina Mokdeci

Ana Cristina Mokdeci

Sou natural de Juiz de Fora (MG), Sommelière profissional desde 2020. Durante a pandemia, tornei-me wine influencer e criei minha marca, Da Vinha Ao Vinho. Sou formada pela Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo (ABS-SP) e tenho o nível 3 da certificação WSET (Wine And Spirits Education Trust, com sede em Londres). No Instagram, apresento um live/podcast, o DOSE DUPLA, em que conduzo bate-papos muito bacanas com personalidades nacionais e internacionais do mundo do vinho. Sou colunista colaboradora do blog especializado em vinhos V AO CUBO. Fui jurada do Wines of Brazil Awards, em 2021, no Rio de Janeiro. À convite da Associação Brasileira de Enologia, fui uma dos 16 comentaristas da Avaliação Nacional de Vinhos de 2022 (edição de 30 anos de avaliação), o único evento de vinhos de uma mesma safra do mundo e o maior do Brasil, que acontece em Bento Gonçalves, RS. Em setembro de 2023, compus o corpo de jurados do Concurso do Espumante Brasileiro, também patrocinado pela ABE.

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