E agora, o que eu faço com o imperativo categórico?
Será que ele me ajudará quando o pneu furar na Praça Santa Rita, 42 graus à sombra em Cataguases?
Se eu estiver com o traseiro quadrado de tanto esperar à beira do riacho uma traíra morder a isca, o imperativo categórico de Immanuel Kant me ensinará um modo de afastar os mosquitos ou terei de recorrer a um cigarro de palha?
E quando faltar cebola pra refogar o arroz? Peço à Anelise que lance umas duas por sobre o muro, agradeço e grito “vou passar na quitanda mais tarde e trago pra você!”, e se ela não estiver em casa desço até a Michele e vejo se ela me salva? Ou sento e reflito sobre o imperativo categórico em busca de uma terceira solução?
De que ele me servirá, o imperativo categórico de Kant, quando eu estiver dividindo com os amigos uma porção de pé de porco no Bar do Paulinho, lá no Louriçal, em Ubá?
Trava o computador, o título não cabe na página, a foto em baixíssima resolução para o jornal impresso, Flamengo empata com Cruzeiro, o cachorro amuado, a desinformação estratégica comendo solta… me ajuda, imperativo categórico?
Eu sei, conhecimento não ocupa espaço, diziam os astecas que nunca foram extorquidos pelo Google Drive. Mas eu não tenho sabido o que fazer com o imperativo categórico, arquivado ali no miolo ao lado da fórmula de Bhaskara.
Claro, pode ser que ele me ilumine quando estiver, por uma dessas desventuras da vida, ouvindo a palestra de um cidadão que não faça muita questão de ser compreendido, de forma que eu não fique totalmente na escuridão quando o douto orador, dissertando sobre a filosofia da ética, citá-lo, o imperioso imperativo categórico de Immanuel Kant.
Ou quem sabe me tenha outra serventia, como enfiá-lo aqui, nessa crônica que também não se pretende lá muito útil na realidade cotidiana da média vida terrena.
E o imperativo categórico?