O que nos acelera, pelo visto, é o petróleo.
Têm sido dias de apreensão, é certo. De uma estranha sensação de estarmos vivendo uma longa semana de exceção. De ver gente que não brincou o suficiente na infância de ser soldado – ou que não teve coragem ou competência suficientes para seguir carreira nas Forças Armadas – ir agora para a rua pedir dias de chumbo.
Mas sob a sombra e o assombro desses desejos plúmbeos, ventam ótimas sensações.
Como essa de desacelaração, cortesia da falta de combustíveis.
De caminhar rumo ao serviço pelas ruas sem carros de Juiz de Fora. De readequar nossos horários para fazer somente o que for possível fazer, sem teimarmos na utopia industrial de estar em dois lugares ao mesmo tempo.
De curtir o caminho e não o destino.
Olhar os acrotérios.
As tampas quase centenárias das caixas de energia.
Contar balaustres, matutar sobre as datas em relevo no alto das fachadas dos sobrados.
Pensar, se não tivermos mais gasolina, propulsora de tantas de nossas angústias, se as aulas começarão às oito e não mais às sete e vinte.
Se o show vai começar às nove da noite em vez de duas da madrugada.
Se vamos plantar hortas e jardins dentro de nossos Renaults e Chevrolets e Volkswagens, e criar porcos e galinhas na caçamba de um bitruck Iveco ou de um Fordão Cargo.
Se aceitaremos a morte de bom grado.
Esses dias, vagante leitor, sem tanto barulho de carro e moto e caminhão e busão levam a gente a esses pensamentos vagabundos.
Tanto quanto a gasolina nos acelera, ruas vazias nos espairecem.
Vagueia o homem, vagueia o pensamento.
Até que, insistente e insensível, dentro do bolso da calça que roça tiriricas, touceiras e arbustos das calçadas mal-cuidadas dos bairros dessa Juiz de Fora, toca o celular, artefato último da multiconectividade escravizante da sociedade tecnoindustrial superacelerada.
(Nota: na próxima crise, sumir com a gasolina e também com os carregadores de celular.)
Vaguear sem gasolina