Quando morre um artista, apagam-se as lâmpadas em sua casa. Fecham-se as cortinas. Amuam-se os cães e os pássaros entram em respeitosa quietude. Cessam as visitas.
Por algum tempo há silêncio e consternação.
Então velas são acesas e a escuridão da casa dá lugar a um aconchegante entardecer, como se a noite súbita e violenta regredisse a crepúsculo. Não pode haver escuridão na casa do artista, pois a luz de que ele é feito não se extingue.
Após o golpe fatal, iluminada pelas dezenas centenas milhares milhões de pequenas chamas, a casa do artista principia a desvelar suas marcas. Surgem poemas em caderninhos sobre o aparador da sala. Das gavetas personagens declamam monólogos. O ar se enche de música, figuras dançam nas paredes.
No murmúrio das coisas belas, as lâmpadas são lentamente acesas e as cortinas se abrem mais uma vez. A casa do artista é ensolarada por sua própria luz, que após breve luto, irradia.
E nós, que também habitamos a casa do artista, somos lembrados de que a arte é o mais perto que se pode chegar de alguma eternidade.
Quando morre um artista