Não precisa ser vidente, pessimista ou economista pra saber que 2022 não será fácil. Sabe quando você está muito apertado pra fazer xixi e quanto mais se aproxima de casa mais a vontade aperta? Pois é. Quando virar o segundo semestre, vai ser aquele momento infinito em que a gente finalmente mete a chave na porta, cruzando as pernas e sapateando ferozmente o capacho.
2022, ansioso leitor, será uma eterna sensação de “vai dar Semana Santa mas não chega o carnaval”. De “dá meia-noite mas não dá 18h”. Imagine você esperando aquela final de campeonato, bandeirões na rua e os dias se arrastando como lesma na calçada. Você rolando de um lado pro outro na cama esperando a hora de montar no busão e ir pra praia. Então, assim será 2022.
O ano todo será você adolescente esperando a hora de encontrar a namorada. Você criança esperando o bolo sair do forno. Minha finada Tia Totota esperando a hora do velório, hora boa de rezar e encontrar azamiga. Ou coisa pior, deus te livre e me perdoe a sinceridade: você com crise renal esperando que lhe apliquem logo Buscopan na veia.
2022 não terá aquele “gente, o ano já tá acabando!” quando der março. Não senhor. Vai ser mais do tipo “parece que já passou uma década e nem chegamos na Páscoa!”. Uma sensação de angústia generalizada tomará o país, uma ansiedade comunitária que não vai passar nem com fluoxetina na caixa d’água ou passiflora em Chapéu D’Uvas.
É que entramos no último ano de um período oficialmente governado por obscurantismo, negacionismo, aparelhamento do estado, perseguição ideológica, autoritarismo, racismo, machismo, práticas milicianas, homofobia, delírios fascistas e outras moléstias que fazem crise renal parecer bicho de pé. Mas ao menos entramos em 2022 sabendo que esse período tétrico tem hora e data pra acabar. Aguentemos que, como disse Gilberto Marley Gil, “tudo vai dar pé”.
A vocês que dedicam seus preciosos minutos à leitura dessas Cronimétricas, meu sincero agradecimento pela companhia em 2021. Suportemos 2022, que vem aí um feliz 2023.
O lento 2022