“Vai chorar na cama, que é lugar quente”, bradou um colega aqui ao ver Neymar debulhando-se em lágrimas no meio do campo após a vitória sofrida contra a Costa Rica na semana passada.
Se era ou não um choro sincero, não tenho bola de cristal.
Mas é certo que ninguém duvidou do choro de Thiago Silva antes das cobranças de pênaltis contra o Chile na Copa de 2014. Questionaram seu preparo psicológico, sua capacidade de liderança, mas não a sinceridade de seu choro.
Ninguém duvidou do choro de James Rodriguez na desclassificação da Colômbia, naquela mesma Copa, para o Brasil. Questionaram a solidariedade de David Luiz, uma mão no ombro de James e os olhos fixos no telão do Castelão. Mas o choro do colombiano, não.
Ninguém duvidou do choro de Fayçal Fajr após a derrota de Marrocos para Portugal na semana passada, que custou a eliminação do time africano. Beirando os 30 anos, há grandes chances de que ele não possa mais disputar uma Copa.
Mas sobre Neymar paira essa dúvida: chorou mesmo? E tantas outras. Algumas que não dizem respeito ao campo de futebol. Se pagou imposto. Se namorou. Se vai para o Real Madrid. Se vai ficar pulando de time em time. Cortando cabelo. Se quem manda é ele ou o pai. Se pensa o que fala ou se fala o que escrevem para ele falar. E outras que, sim, dizem respeito ao jogo. Se forçou cartão. Se tentou humilhar o adversário. Se fez corpo mole. Se deu migué para não jogar. Se simulou falta. Se simulou dor.
E aí parece natural ao torcedor perguntar, nessa avalanche de serás: chorou de verdade?
O futebol de Neymar não é questionável. Tudo mais que o cerca, é. O craque, esse craque, alimenta especulações, turbina controvérsias. É um fora-de-série, disso sabemos nós e sabem os outros. Ponto pacífico. Mas sabemos nós e também os outros que seu comportamento (talvez extravagante?) dentro e fora de campo rendeu-lhe uma tal reputação, construiu-lhe uma persona. E com ela terá de saber lidar, também, dentro e fora de campo.
E quanto a isso não adianta chorar. De verdade ou não.