No último domingo estreou a sétima temporada de “Game of Thrones”.
Eu, ansioso pelo início do fim como milhões de pessoas ao redor do mundo, não vi.
Eu, que não sou assinante da HBO como milhões de pessoas ao redor do mundo, verei hoje ou no máximo amanhã. Por outros meios.
Mas verei.
Como Daenerys, Cersei ou Sansa, terei o que quero.
Nestes tempos de revolução informacional, nestes ambientes virtuais-ficcionais em que nos encontramos cada dia mais imersos, acostumamo-nos a ter o que queremos. Quando queremos.
Aquele disco de 1973 do T. Rex impossível de achar?
Spotify.
Aquele filme meio obscuro do Akira Kurosawa safra 1980?
Netflix.
Não achou?
Pirate Bay.
Essa facilidade tem nos deixado mal-acostumados. Mimados mesmo. Propensos à birra.
Como as nobilíssimas senadoras que acharam que, sentando-se na cadeira do presidente do Senado, barrariam a votação-aprovação da nefasta reforma trabalhista.
A isso foi reduzida a resistência: a um pití.
E se nós mesmos, que aprendemos que tínhamos de virar mundos e fundos para botar a mão naquele álbum do T. Rex, estamos ficando assim meio folgados, o que dizer dessa geração on demand que já nasceu tendo tudo à mão, na superfície das telas sensíveis ao toque?
Aos adultos, o banco dá crédito.
Aos filhos, os pais dão a senha.
Aos miseráveis, a rua dá a oportunidade.
O que não podemos é ficar sem o que queremos. E pra já.
Como explicar que não é assim no mundo aí fora?
Que não é assim no trabalho?
Que não é assim no amor?
Nem na guerra?
Que a vida exige labor, paciência, cuidado, humildade?
A consciência de que talvez não consigamos tudo o que queremos.
Pelo menos não agora.
E talvez nunca.