Após uma visita ao Jardim Botânico da UFJF, recente ribalta para uma certa onça-pintada dada a passeios noturnos pela orla do Paraibuna, volto para casa com uma muda de palmito-juçara, palmeira nativa da Mata Atlântica e, explica-me o acadêmico de Biologia, ameaçada de extinção.
Trago o pezinho esmirrado com algum cuidado, não sem deixar que um pouco da terra se espalhe pelo tapete do carro. Já no caminho desenha-se na cachola o desafio: onde plantá-lo? No quintal não, pois temos outros planos para aquele pedaço de grama onde formigas montam barricadas, obedientes que são à sua rainha, que distribui ordens das profundezas do chão e cujos planos de dominação eu ignoro.
(imagino-a em um trono de terra vermelha, silenciosa, os olhos negros enormes e desproporcionais, insondáveis, refletindo somente as paredes sombrias de seu palácio subterrâneo)
Na frente da casa talvez, mas é preciso lembrar o que disse o estudante: essa palmeira pode chegar a 18 metros de altura. Aí talvez não seja uma boa, mesmo com seus míseros 15 centímetros de diâmetro. Então do lado da garagem, perto do muro com o vizinho? E se as raízes crescerem e começarem a fazer desmoronar a divisa entre nossas casas? E se as folhas começarem a cair sobre o telhado dele? E os frutos entupirem-lhe as calhas? E atraírem pombas?
São perguntas demais para um raio de um palmitinho besta de 30 centímetros de altura! Se eu pensasse em todas essas coisas antes, talvez tivesse trazido uma muda de goiabeira, ou uma florzinha ordinária que fosse, qualquer coisa que não viesse seguida da locução “em extinção”. É termo que aumenta sobremaneira a responsabilidade de um jardineiro ocasional.