Uma linda moça caminha pela calçada vinda da praia, carregando a tiracolo uma bolsa de palha. No deck do bar, babam os rapazes.
– Olha que coisa mais linda.
Um deles pega um paliteiro da mesa e começa a batucar. É um sujeito loiro e muito branco, com os lábios furados de piercings e enormes dreadlocks que descem pelas costas magras. Bebe gin tônica.
– Olha que coisa delícia, cara de safada… -, cantarola o matusquela, uma intenção entre o funk melody e o pagode romântico noventista, com uma vibe sertaneja de trio elétrico.
Ao seu lado, um negro corpulento que ocupa duas cadeiras, pesada corrente a adornar o que seria seu pescoço, se o tivesse, bebe Aperol Spritz e emenda com uma voz trovejante.
– … é ela que eu quero, na minha sacada…
– Grava aí, mano! Vai dar um som!
Um terceiro cidadão à mesa do bar, um moreno de braços tarzânicos com tatuagens que sobem até atrás das orelhas, saca um celular e começa a registrar a canção nascente. Bebe Moscow Mule. A esta altura, a linda moça já virou a esquina da Vinícius de Moraes.
O garçom confidencia ao casal estrangeiro da mesa ao lado que se trata de um ascendente grupo musical estourado no YouTube.
– Vão hoje no Faustão.
O dreadlocker segue buscando versos.
– Fazendo amor até a madrugada…
– Pô, mano… isso daí de fazer amor de madrugada já tem, né? Cê tá ligado naquela coroa.
– Relaxa, meu cria. Depois a gente muda, ‘bebendo uma champa na luz do luar’, ou ‘fazendo amor até os vizinho chiar’… depois a gente vê, segue o groove aí, pô. Além do mais, tudo já tem mesmo, a quantidade de palavra que existe no mundo tem limite, parça.
E retomam a composição.
São 11h30 e um novo hit começa a nascer em uma famosa esquina de Ipanema.
Do lado de fora do lendário bar, as moças do Rio, que nada têm a ver com isso, continuam vindo e passando, cheias de graça.