Uma igreja de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, amanhece pichada com suásticas.
Suásticas nazistas.
Em 2018.
No Brasil.
Fato isolado nada: em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, uma jovem que trazia um arco-íris às costas tem a mesma cruz diabólica cravada a canivete em suas costelas por um bando de maníacos.
Fato isolado nada: nos primeiros dias de outubro, em todo o Brasil, militantes de extrema direita protagonizam pelo menos 50 ataques contra gente que deles diverge.
Fato isolado se não houvesse atropelamentos de jornalistas de esquerda em Curitiba.
O incêndio de abrigos de venezuelanos famintos em Roraima.
Ameaça de estupro no Recife.
Esfaqueamentos.
(Morre Moa do Katendê em Salvador, Bahia. Doze facadas. Todas pelas costas.)
Rasteja pustulenta no Brasil, vigilante leitor, uma onda de violência que coletiviza – agora desavergonhados – preconceitos individuais, cristalizados no nefasto símbolo das legiões assassinas de Hitler. Registram-no em paredes e carnes.
Uma onda referenciada e referendada por um discurso de ódio travestido de plataforma de governo, jogo sujo, fake news, fake people, lavagem cerebral, ouçam: como ecoam suásticas na boca que cospe balas arame farpado choque elétrico pau-de-arara.
Anos de chumbo, invejo apenas aqueles em que voava leve o plúmbeo Zeppelin a disparar riffs e refrões, amor nos olhos e flores nos cabelos. Aqueles outros, do chumbo disparado contra cabeças encapuzadas, mãos amarradas, despedaçando cucas maravilhosas e sonhos de liberdade… aqueles, queria sepultados.
Mas bolimos com cobras:
Não esperemos que elas nos acariciem no alvorecer dos temíveis dias.