Agora estão trabalhando na Internet das Coisas, uma maneira de deixar não só a gente conectado, mas também nossos carros, as maçanetas das nossas casas, os chuveiros, nossos psiquiatras e nossas torradeiras elétricas.
Trabalham nisso na Unicamp, no MIT de Massachusetts e na China.
Talvez aqui na UFJF também. E na Coreia e na Austrália.
Chamam de Internet of Things.
Assim, quando você entrar no seu carango conectado, uma câmera _ sabe-se lá o que ela estará filmando, hein – fará o reconhecimento do seu rostinho bonito, para oferecer informações sobre seus hábitos cotidianos, e assim, por exemplo, recomendar músicas ou indicar trajetos para seu GPS.
Quer adivinhar, a partir de nossos padrões comportamentais, devidamente registrados diuturnamente, nossos próximos passos.
Pretende-nos previsíveis. Escaneáveis. Antecipáveis.
Mas como vai se comportar a Internet das Coisas naquele dia em que o pão da gente está caindo com a manteiga pra baixo?
Que nem a lasanha da mamãe nem o café preto e forte da patroa são capazes de agradar, porque queremos mesmo é fígado com jiló e um trago daquela cachaça mais rascante?
Que o cheiro das flores que o maridão mandou no serviço embrulham o estômago e preferiríamos cheirar cocô de boi?
Aqueles dias em que beijos te pesam e sorrisos te custam o olhos fuzilantes da cara?
Que até ouvir “Blackbird” dá vontade de sair chacinando canários-belga, trinca-ferros e pardais mudos?
Que nem esses anúncios que nos perseguem com tênis quando queremos cerveja, pacotes de férias quando queremos travesseiro, Jack Johnson quando queremos Sepultura.
Preverá o amargor de uma noite mal-dormida, essa Internet das Coisas?
O bode de uma ressaca moral?
De um amor recém-falido?
Será dotada a Internet das Coisas, internético leitor, de uma tecnoespátula capaz de desvirar ovos virados na cauda de uma manhã cinzenta ainda que ensolarada?
Desafiamo-la, pois, Coisinha Soberba do Futuro.