Eu nunca tinha ouvido Vanusa.
Digo, provavelmente tenha ouvido na infância, com minhas tias fãs da Jovem Guarda, ao longo dos anos 80 num ou outro programa de TV, mas nunca tinha ouvido um álbum de Vanusa.
Nunca até Wilson Aviano, meu amigo punk, vir em casa tomar umas cervejas e comentar, com sua voz suave, sobre a lenda do plágio do Black Sabbath. Isso tem uns dois anos. O riff de guitarra de “Sabbath Bloody Sabbath”, sabático leitor, é igualzinho ao riff de guitarra de “What to do”, que está no quarto álbum de Vanusa, lançado uns cinco meses antes do Sabbath, em 1973. Compare abaixo:
“Vanusa” de 1973 (ela lançou muitos álbuns homônimos) é um discaço. Tem de tudo: rock, samba, baladão. Abre com “Manhãs de setembro”, uma das mais lindas canções da língua portuguesa. Vanusa safra 1973 é um dos mais belos episódios da história da nossa música. Ouçam.
A morte de Vanusa no último domingo foi o popular “descanso”. Sofrendo com demência e sérios problemas respiratórios, vivia em um asilo em Santos, uma sombra melancólica do furacão louro que deu novo ar a canções memoráveis como “Paralelas”, de Belchior, e “Avôhai”, de Zé Ramalho. Que gravou o maravilhoso funk “Hey Joe” em 1969. Ouçam.
Não usarei essas linhas para especular sobre o que levou Vanusa à depressão profunda e seguida degradação mental; nem trazer à tona a necessária discussão acerca do covarde tribunal da internet e o que ele pode fazer mesmo às mentes mais brilhantes.
Fica pra outro dia. Por hoje, eu quero ensinar o vizinho a cantar. Ouçam.