Eu sei pra que serve um martelo. E sei pra que serve um advogado, um médico, um padeiro. Sei pra que serve uma costureira, um vendedor ambulante, um torneiro mecânico. Um pneu. Uma colher. Sei pra que serve uma cafeteira, um motor quatro tempos de 225 cilindradas e um jornaleiro. Mas um cronista? Pra que serve um cronista?
Sei pra que serve um professor de tecnologia da informação, a água, um porta-retrato, um retratista. Um pincel, uma palmilha, um palmito, um ferreiro e um ferrador de cavalos. Conheço bem a utilidade de uma tesoura, de um copo de cachaça, de um administrador de empresas e de uma lagartixa. Mas um cronista…
Um ator serve, um soldado serve, um cortador de unha serve, um tapete serve. Um servente, um servidor, um serviçal, um samurai servia. Um chinelo tem serventia, como um saquinho de chá, um lampião e uma lâmpada de LED. Um guidão. Um microfone eu sei pra que serve, como um telefone ou um megafone. Um lápis. O papel. Já o cronista que nele escreve, não sei não.
A revista serve. Um engenheiro também. Uma garota de programa. Um garoto de aluguel. Uma rua asfaltada, uma estrada poeirenta, um pé de amoras, fogo e um doce de manga. Uma faca afiada. Uma telefonista cega. Um historiador. Um técnico em radiologia. Uma caveira de boi. As asas de um pardal. A tatuagem no dorso da mão da caixa de supermercado serve a um propósito. E o cronista?
Têm serventia um prego na parede, uma cadeira de rodas, os ferros-velhos e os velhos que alimentam a fome dos asilos. As enfermeiras-chefe. Os limpa-trilhos. Os substantivos compostos. Uma camisinha. Quase tudo nesse mundo serve para alguma coisa. Mas um cronista? Pra que serve um cronista se ele, tendo por matéria-prima somente a palavra, não puder ser também um carpinteiro, um lobo-guará no pátio da igreja, um Sonrisal, uma ponte? Se não puder ser qualquer outra coisa além daquilo que seu nome diz que é… pra que serve um cronista?