Quinta passada saí do trabalho e fui tomar um café com minha filha na Rua Braz Bernardino. Antes, porém, aproveitei para passar no Welisson, cortar o cabelo e fazer a barba. Acho até que ele foi pouco severo com sua tesoura, deixando longos demais os poucos fios que ainda resistem no topo da cabeça. Mas entendo também que ele não queira perder o cliente para a calva inadiável. Despedimo-nos com um abraço e fui com a Bia para o café da Braz.
Lá, enquanto aguardava o pedido – café e pão de queijo pra mim, milkshake e quiche pra ela -, me aparece o Sebá. Cumprimentamo-nos com um longo abraço, ele perguntou da Sra. Guiducci, eu perguntei do Sr. Sebá, ele ficou impressionado com o tamanho da Bia, pois não a via há tempos, nossa, 17 anos, é uma mulher, linda etc. Outro abraço e ele foi se juntar a um grupo de amigos na mesa do lado de fora, dando gostosas baforadas no cigarro.
Lanche feito, conta paga, seguimos pela galeria para acessar a Rua Espírito Santo, onde eu deixara a moto estacionada. Em um outro café no Pátio Central um grupo de homens conversava. Levei minha mão às costas de um deles e esfreguei-lhe o lóbulo da orelha, como fazia nosso saudoso colega Antônio Marcos. Era o Alex, amigo de adolescência da Sra. Guiducci. Ele se virou um pouco assustado, abriu um sorriso e disse “você me ama mesmo, né, Del?”. Demos um abraço, falamos brevemente, a Bia já ia lá na porta da Espírito Santo, de modos que tive que seguir meu rumo.
Antes de irmos para casa, uma passadinha para comprar provisões no Bahamas, encontro com meu amigo e desorientador André Monteiro. Ele carregava o filho Miguel no carrinho de compras, como tantas vezes eu fiz com a Bia. Poeta, cantor, compositor e dono de vasta cabeleira, André foi quem me guiou no percurso da pós-graduação na UFJF. Depois de um abraço, eu me desculpei por ter furado com ele a cervejinha que marcáramos no mês passado. Mas é que eu inadvertidamente tinha marcado para o dia do aniversário da minha mãe, e isso não se faz, daí o cancelamento. Ele disse que compreendera, que marcaríamos outra quando eu quisesse e assim nos despedimos.
Já na seção de frios, onde eu procurava umas bolinhas de queijo, topo outro camarada de muitos cabelos grisalhos. Gus foi o primeiro da minha turma de faculdade que encontrei na UFJF. Era janeiro ou talvez fevereiro de 1995, estávamos no anfiteatro da Faculdade de Direito para fazer a matrícula e ele usava um boné do Nirvana. Era a senha de que ali eu teria um igual para trocar ideia naquele novo ambiente, tão desafiador quanto estimulante. Agora, quase 30 anos depois, ele disse enquanto me abraçava que está morando no Salvaterra, perguntou se eu ainda tinha uma banda, eu disse que sim e que o convidaria para o próximo show, e ele falou que chamaria o Tairone e iríamos todos juntos. Um outro abraço para selar o compromisso e seguimos cada um nosso caminho.
Na fila para o caixa, Bia diz “mas conhece todo mundo mesmo, parece meu avô andando lá em Ubá.” E me pergunta, com aquele tom deliciosamente irônico que ela domina com maestria, se eu não quero ser vereador. Digo que sou bobo demais para isso, que seria devorado pelos outros na primeira tentativa, que sou uma pessoa mais de abraços e menos de tapinha nas costas. E que, além do mais, nem conheço tanta gente assim, apenas dei sorte naquele dia. Enquanto vínhamos para casa, o ar frio do Parque da Lajinha acelerando contra nossas roupas, pensei que aquele era um ótimo jeito de começar a terminar a semana.