Dois chefes de tribo reuniram-se certa feita para negociar um acordo relativo à disputa de um território que há anos era motivo de sangrenta guerra civil. Foram três dias de conversas, em que as respectivas comitivas esbaldaram-se em jogos, banquetes e sexo com as mais belas prostitutas e escravos de todo o reino.
Enquanto a farra comia solta do lado de fora da tenda principal, durante o dia os generais e seus assessores mais próximos argumentavam e contra-argumentavam. À noite, os dois bebiam vinho e jogavam xadrez e go e gamão e xiangqi. Adoravam um tabuleiro, aqueles velhinhos.
A maioria da população detestava a guerra, que devastava com morte e destruição todo o reino. Portanto, esperava que naquele encontro as diferenças entre os líderes fossem dirimidas e a paz e a prosperidade voltasse a imperar para todas as tribos. A expectativa era grande.
Ao fim dos três dias de orgia, comilança e jogatina, o acampamento foi levantado sem que os dois chefes chegassem a termo. Em último esforço desesperado, um dos assessores sugeriu que a demanda fosse resolvida à moda antiga, num duelo entre os líderes. Até a morte. Já à saída da tenda, um dos chefes olhou para o acólito com decepção e disse:
– Tem-nos por bárbaros, homem?
E despediu-se com afetuoso abraço de seu adversário.