Guipa era um cara bonitÃĢo. E tava na moda. Braços cheios de tatuagens vintage. Barba enorme e superescovada. Olhos azuis. Coque.
– Ai, Guipa… – suspirava a mulherada.
Guipa adorava moda, mas como o ramo estava um pouco saturado demais, decidiu fazer curso no Senac e abrir uma barbearia para cuidar dos pelos faciais da rapaziada, que andava bem vaidosa ultimamente. Guipa nÃĢo sÃģ adorava, mas tambÃĐm estava na moda, entÃĢo botou fliperama, bilhar, cervejas artesanais de 30 contos, chamou de barber shop e foi ganhar seu dinheirinho na honestidade.
Certo dia, entrou com dois capangas no recinto Orlando Ferreira, conhecido gÃĒngster da cidade. Fez fortuna com agiotagem, casas noturnas, lavagem de dinheiro e trÃĄfico de drogas. Todo mundo sabia, mas ninguÃĐm prendia. O pessoal se borrou todo.
A fama de Guipa correra rÃĄpido, e Orlando tambÃĐm estava na moda com seu coque samurai e enorme barba cor de cobre. Sentou-se na cadeira e ordenou o serviço. Tesoura. Toalha quente. E, por fim, navalha.
O pescoço traiçoeiro de Orlando ali.
A carÃģtida pulsando.
Guipa suava.
E tremia.
Quando jÃĄ terminava o serviço, um delize. Um pequeno talho. E o sangue desceu em delicado filete do pescoço do gÃĒngster.
Arrancando a toalha dos ombros, Orlando cravou seus olhos cor de fÚria nos olhos marinhos de Guipa.
Afastou as mÃĢos do barbeiro e tomou-lhe a navalha.
Os capangas se posicionaram atrÃĄs de Guipa.
O ambiente estalava e faiscava de tensÃĢo.
Orlando agarrou a mÃĢo de Guipa.
Olhou-se no espelho.
Afastou o colarinho.
E ordenou.
– Agora lambe, gostoso.
Os gÃĒngsteres do Brasil andam muito modernos.