Observem e digam, caros leitores, se não está em curso um processo de miniaturização geral dos nomes das pessoas. Sei lá se influenciados pelo fenômeno da abreviação de palavras ditada pela ortografia própria dos ambiente digitais, onde suprimimos vogais em favor de vcs e pqs, ou pela simples preguiça de pronunciar os nomes em suas inteirezas, quiçá sintoma de uma universal ansiedade, fato é que reduzimos a duas ou uma sílaba tudo que for passível de enxugamento.
Não me parece acaso que os dois nomes mais registrados em cartório no ano passado sejam bissílabos: Miguel e Gael. Estamos aí, claramente, buscando o mínimo esforço para o máximo efeito. E sendo prática cultural corrente, ignoramos os nomes tão criteriosamente escolhidos pelos pais, firmados em cartórios e consagrados na Igreja, e lhes passamos a faca sem cerimônia.
Olho ao meu redor aqui na redação. Só eu chamo Carolina de Carolina. Todos os demais a chamam Carol. Aliás, notem, é coisa rara achar uma Carolina inteira hoje em dia. E o fenômeno se repete. Não se enganem pelas assinaturas que veem nas páginas desta Tribuna, leitores: Elisabetta, nome tão bonito, é Betta, Mariana é Mari, Nayara é Naná, Vinícius é Vini, Cecília é Ceci. E os que vocês não leem com tanta frequência, idem: Fabíola é Bila, Rafaela é Rafa, Raphaela é Rapha.
Salvam-se Davis e olhe lá.
Ainda nos restam, é verdade, alguns apelidos à moda antiga. Do tempo em que, ao reduzir carinhosamente para o diminutivo o nome de alguém, na verdade o alargávamos, de modos que Sandra é Sandrinha e Renato é Renatinho. Justiça seja feita, antes de ambos veio PC, que um ou outro ainda chamam Paulo Cesar. Mas esse está na esfera das siglas e iniciais, um outro departamento.
Deixo aqui essas inutilíssimas observações sem juízo de valor. Não creio que seja o caso de se instituir uma frente de combate ao reducionismo onomástico. Tampouco eu me meteria a organizar tal levante, se lá em casa Bia e Juju só são Beatriz e Júlia na hora de levar bronca, e eu mesmo não me recordo de meus pais me chamando senão pela última sílaba do meu nome, abençoado pelo Frei Adriano na pia batismal da Igreja de São Januário de Ubá, Minas Gerais, nos idos de 1974.
Me chame pelo meu nome (ou parte dele)