Por que as habilidades e competências estimuladas na escola tradicional ainda não são suficientes para formar o profissional do futuro?

A realidade exige profissionais mais ativos, criativos, colaborativos e com competências amplas. Mas, infelizmente, essas habilidades não são estimuladas para que o jovem se sinta melhor inserido no mercado.

Por Marcelle Larcher

Não precisamos ir muito longe para visualizarmos todas as mudanças que enfrentamos como sociedade nos últimos anos. O avanço tecnológico, que possui grande papel nessas mudanças, transformou o nosso dia a dia, nossas relações e o mercado de trabalho. Definitivamente, já não somos os mesmos de 10 anos atrás, e não seremos os mesmos 10 anos à frente. Talvez não sejamos nem de um ano para o outro. Diante de todo esse cenário de transformações tecnológicas, comportamentais  e culturais, agora vamos fazer outra reflexão, você já parou para pensar que as escolas continuam as mesmas? Elas não deveriam acompanhar/estar acompanhando essas mudanças?

Os novos modelos educacionais não condizem com a realidade do mercado e com tudo que o mundo está vivendo. A realidade exige profissionais mais ativos, criativos, colaborativos e com competências amplas. Mas, infelizmente, essas habilidades não são estimuladas para que o jovem se sinta melhor inserido no mercado.

Claro que sabemos que muitos estudos estão sendo realizados e muitas diretrizes curriculares já estão com novas perspectivas, como a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas sabemos que ainda estamos longe de um modelo educacional condizente com a realidade.

No mundo ideal, os jovens devem conseguir refletir sobre seus desejos e objetivos, aprendendo a se organizar, estabelecer metas, planejar e perseguir com determinação, esforço, autoconfiança e persistência seus projetos presentes e futuros, assim como também devem ter compreensão do mundo do trabalho, das profissões e seus impactos na sociedade, hoje e futuramente. Contudo, hoje esta não é uma realidade, nos deparamos com adolescentes focados somente em passar no vestibular, ingressar em uma faculdade que ele não sabe se foi a melhor escolha, mas que não teve muito tempo para escolher. O problema é: e depois?…  

Conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira, “60% dos jovens desistem do curso que escolheram”. Isso porque, na maioria das vezes, ainda são muito imaturos para decidirem seu futuro profissional e não recebem as orientações e estímulos necessários da escola,  para uma escolha mais assertiva.

O caminho para o futuro

O mercado de trabalho que aguarda o seu filho está mais exigente, ele vai cobrar muito mais que uma graduação ou um curso técnico, ele pede habilidades, que na sua época, você nem sequer sonhava em desenvolver. Dessa forma, como preparar esse jovem para um mercado totalmente diferente desde quando o processo de aprendizagem e o modelo tradicional de ensino está estagnado no tempo.

Os jovens de hoje estão se preparando para se tornarem o profissional do futuro, ou seja, aquele que deve compreender e alcançar o equilíbrio certo entre o técnico e o comportamental. Tendo isso em vista, sabemos que as principais habilidades cobradas por este novo mercado de trabalho não são aprendidas na sala de aula, ao menos não é assim no modelo de ensino tradicional, então como preparar este profissional?

Hoje, a solução encontrada pela grande maioria dos pais e responsáveis é a capacitação além da sala de aula, aquela que permeia formações alternativas, como programas de capacitação, cursos, palestras, workshops e as mais diversas formas de atividades extracurriculares.

Contudo, precisamos ir além e pensarmos na transformação desse modelo tradicional nas escolas, é nítido o quanto já não cabe mais, não funciona e necessita ser reformulado pensando nas novas gerações.

As escolas precisam urgentemente se moldar a este novo mercado, só assim terá condições de formar os futuros profissionais que nele atuarão. Para isso, algumas coisas são importantes, como: criar uma relação de parceria com recursos tecnológicos e incentivar o uso de ferramentas e soluções cada vez mais digitais, bem como, é preciso colocar o aluno como agente da própria educação, dando autonomia para ele poder se desenvolver, buscando conhecimento e entendendo que as suas particularidades e experiências de vida são valiosas para compor o seu perfil profissional. Professores precisam atuar, cada vez mais, como tutores e incentivadores, deixando de lado a ideia de massa e pensando nas individualidades.

A escola do futuro também precisa estar interessada no desenvolvimento das habilidades mais procuradas pelo mercado, aquelas que não possuem ficha técnica, são voltadas às relações sociais como, por exemplo: empatia, autonomia, responsabilidade, pensamento crítico, resolução de problemas, dentre outras. Pensando sempre em alternativas que despertam e essas características nas crianças e adolescentes.

As principais mudanças para o profissional do futuro: coisas que definitivamente ficaram para trás

1- Foco no grupo

A escola tradicional é projetada para o desenvolvimento da turma como um todo. Contudo, não podemos mais ignorar que a individualidade é um fator fundamental para o desenvolvimento profissional. Cada pessoa tem seu próprio tempo, suas habilidades e os mesmos precisam ser respeitados e potencializados.

2- Carreira como algo linear

A escola tradicional estimula a construção de uma carreira focada em uma única área de conhecimento, o que muitas vezes pode levar ao não desenvolvimento de outras habilidades com potencial.

3- Desenvolver apenas habilidades técnicas

Os modelos educacionais tradicionais ainda são muito focados em desenvolver apenas habilidades técnicas. Sabemos, porém, que para conseguir lidar com as mudanças e quebras de paradigmas, são necessárias outras habilidades como: gerenciamento de emoções, organização, assertividade, colaboração, criatividade, flexibilidade, comunicação, dentre outras.

4- Graduações e MBAs como grandes diferenciais

Ter um curso técnico, uma graduação e uma pós-graduação ainda faz diferença, mas o profissional não deve parar por aí. A estagnação não combina com o futuro, assim, é importante manter-se atualizado com cursos, capacitações e leituras. O diploma sozinho, não é mais um diferencial para o mercado.

5- Ficar no mesmo emprego a vida toda

A maioria dos profissionais de hoje são movidos a desafios e isso, nem sempre, é encontrado na empresa em que estão vinculados, fazendo com que eles sintam mais liberdade para buscar novas oportunidades, tanto para ter outras experiências quanto para se sentirem mais valorizados. Hoje, o propósito começa a tomar contar dos altos salários e o profissional motiva-se para encontrar o que faz mais sentido para ele. Sabe-se que as futuras gerações terão que se reinventar constantemente e deverão aprender, desaprender e reaprender de forma dinâmica e contínua. (Falaremos isso na próxima coluna)

6- Concursos públicos como ideais de sucesso e prosperidade

Que pessoa, principalmente os mais jovens, nunca ouviu de algum parente mais velho que alguma instituição pública estava realizando um concurso? Claro que a estabilidade é uma segurança, o cargo e a remuneração podem até ser bons, mas será que isso, a longo prazo, fará algum sentido? A geração atual, como falamos anteriormente, almeja por desafios e por oportunidade que possam agregar valor e experiência à sua carreira e à sua vida.

7- Crença de que empreender não é uma opção

Antes de discutir essa crença, é preciso lembrar que existe uma diferença entre aquele que empreende por necessidade e aquele que empreende por opção. No passado, muitas pessoas abriam seu próprio negócio por não terem perspectivas de trabalho, já que precisavam obter renda para sustentar suas famílias, isso fez muitas empresas nasceram sem nenhum planejamento e estrutura. Por outro lado, quem empreende por opção é aquele que quer ter a sua própria empresa e busca meios para tirá-la do papel. Hoje temos disponíveis inúmeras ferramentas que ajudam no planejamento do tipo de negócio e na avaliação de cenários e riscos. A geração atual flerta constantemente com o empreendedorismo, pois enxerga nele oportunidades de crescimento tanto pessoal quanto profissional. 

8- Profissões mais convencionais são as mais almejadas

Todas as profissões tradicionais como médico, engenheiro e advogado, ainda estão em alta, no entanto, não são sinônimos de sucesso e boa remuneração. A internet e a tecnologia abriram um campo muito vasto de profissões, inclusive, propiciando ocupações ligadas à criatividade, aos negócios e às mais diferentes soluções, coisas que no passado não existiam e estavam longe de serem consideradas.

Todos esses pontos já são vistos com outros olhos pelo mercado de trabalho, por isso, é preciso desenvolver essas habilidades nas gerações mais recentes. 

E então, o que acha de aproveitar esse momento para uma reflexão? Você já tinha pensado sobre tudo o que falamos aqui? Tendo em vista os pontos que analisamos, acredita que a formação dos seus filhos, até o momento, é satisfatória para torná-los profissionais de destaque no futuro?

MARCELLE GERACAO 2

Marcelle Larcher

Marcelle Larcher

Marcelle é Especialista em Gestão Comportamental. Atua como Sócia e Diretora Executiva do Grupo Larch. Graduada em Psicologia e Pedagogia, MBA em Gestão Empresarial, possui Especialização em Gestão Estratégica de Pessoas e é Analista Comportamental DISC Profiler. Mentora de Líderes, possui mais de 800 hs de desenvolvimento pessoal e carreira com empresários e gestores. Empresária, empreendedora e gestora no setor educacional e organizacional, Marcelle tem mais de 15 anos de experiência em Educação Executiva, e 29 anos de mercado.

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