ViolĂȘncia contra as Pessoas Idosas: Que vergonha!

Por Jose Anisio Pitico

O Dia Mundial de Conscientização da violĂȘncia contra as Pessoas Idosas foi instituĂ­do pela Organização das NaçÔes Unidas(ONU) e pela Rede Internacional de Prevenção Ă  ViolĂȘncia Ă  Pessoa Idosa no ano de 2006. Embora essa realidade jĂĄ exista hĂĄ muito tempo. Eu diria que a humanidade estĂĄ em falta com as pessoas idosas no que diz respeito a um tratamento de mais atenção e de dignidade. HĂĄ uma dĂ­vida social com os mais velhos. E a violĂȘncia contra eles nĂŁo Ă© um fato recente. Sempre existiu e existe nos nossos dias.

O dia 15 de junho de cada ano, a partir do ano de 2006, Ă© destinado Ă s açÔes pĂșblicas, polĂ­ticas e comunitĂĄrias, para chamar a atenção da sociedade sobre a realidade da violĂȘncia contra as pessoas idosas, o que acontece em vĂĄrios paĂ­ses, em vĂĄrias cidades e em muitos municĂ­pios. Em Juiz de Fora, fizemos no dia 18 de junho, com a promoção da ComissĂŁo da CĂąmara Municipal, que conta com a participação de vĂĄrias entidades, dirigentes, profissionais e pessoas idosas envolvidas com a questĂŁo do envelhecimento em nossa cidade. A ComissĂŁo da CĂąmara foi criada em 2011 e tem feito um trabalho produtivo e eficaz na defesa intransigente e garantia dos direitos das pessoas idosas. VocĂȘ, caro leitor, prezada leitora e internauta estĂĄ convidado, estĂĄ convidada para participar das reuniĂ”es pĂșblicas dessa comissĂŁo, que acontecem todo mĂȘs. Sempre nas segundas terças-feiras do mĂȘs, Ă s 14h, na Sala Asa Delta da CĂąmara Municipal. Sendo uma pessoa idosa ou nĂŁo, te esperamos no prĂłximo dia 9 de julho. Contamos com a sua presença!

O que a comissĂŁo fez publicamente no dia 18 de junho foi sair Ă s ruas, descer e subir o CalçadĂŁo, com a bateria nota 10 da Escola de Samba Juventude Imperial e sacudir para espantar a indiferença histĂłrica da sociedade com as pessoas idosas e buscar, urgentemente, estratĂ©gias pĂșblicas de açÔes para o enfrentamento dessa cruel realidade. O intuito da marcha foi o de sensibilizar a cidade de Juiz de Fora, mostrar a cidade que, infelizmente, a violĂȘncia contra as pessoas idosas Ă© um fato real que acontece bem perto dos nossos olhos, quando, nĂŁo muito, via de regra, acontece dentro de nossas casas. Em nossas famĂ­lias.

O inimigo nĂŁo mora ao lado. O agressor estĂĄ dentro de casa. É o que apontam as estatĂ­sticas das instituiçÔes que trabalham com esses casos. A violĂȘncia contra as pessoas idosas nĂŁo escolhe classe social e acontece em todos os estratos sociais. Das mais variadas formas, desde o roxo no rosto ou em outra parte do corpo atĂ© a invisibilidade de um grito, parado no ar, a violĂȘncia estĂĄ presente: na indiferença, ao nĂŁo ter a palavra em casa. A violĂȘncia da negligencia na recusa da oferta de alimentos, de cuidados de saĂșde, e de medicação. Apropriação desautorizada dos seus benefĂ­cios previdenciĂĄrios. A violĂȘncia externa. Nas ruas. No trĂąnsito. Nas agĂȘncias bancĂĄrias. Nos ĂŽnibus coletivos da cidade. No atendimento pĂșblico e privado nas relaçÔes de consumo.

Numa sociedade como a nossa, que Ă© muito violenta, e que, para se defender, quer armas para todo mundo, em detrimento de oferecer educação para todos, o nosso futuro fica muito ameaçado e muito comprometido. Roubam-se os nossos sonhos. A nossa liberdade. É um salve-se quem puder. Toda violĂȘncia contra as pessoas idosas exige respostas pĂșblicas em medidas de açÔes de saĂșde. O que temos feito nessa direção? É preciso tambĂ©m promover notificaçÔes dos casos Ă s autoridades competentes. Divulgar os serviços existentes na cidade que protegem as pessoas idosas. No nosso ambiente, temos o NĂșcleo de Atendimento ao Idoso da PolĂ­cia Civil que atende, no Santa Cruz Shopping, no terceiro andar, diariamente. E, em breve, teremos, pela ComissĂŁo do Idoso da CĂąmara Municipal, um disque-idoso.

A gerontofobia (agressĂŁo aos idosos) terĂĄ menos importĂąncia em nossas relaçÔes sociais a partir do momento que falarmos mais sobre a nossa velhice e sobre o nosso futuro de vida. O debate sobre o envelhecimento nunca se fez tĂŁo necessĂĄrio como agora, diante dessa nova realidade que Ă© o aumento da nossa expectativa de vida. A revolução que a longevidade jĂĄ provoca em nĂłs e em todos os paĂ­ses e sociedades. Vamos “durar” muito. É preciso que a gente se eduque e se prepare para viver muito. O que fazer da minha vida diante do tempo que eu tenho pela frente? Penso, acredito e desejo, coletivamente, que uma nova sociabilidade deverĂĄ ser construĂ­da diante dessa nossa situação da presença cada vez maior das pessoas idosas no nosso dia-dia. Sem violĂȘncia. Porque sinto vergonha como ser humano pela presença da violĂȘncia nossa de todos os dias. E busco refĂșgio e indignação atualizada na poesia de Manuel Bandeira no seu “O bicho”. Muito contemporĂąnea e, talvez, pouco conhecida. Vale a pena a transcrição abaixo como despedida da coluna de hoje.

Vi ontem um bicho
Na imundĂ­cie do pĂĄtio
Catando comida entre os dedos
Quando achava alguma coisa,
NĂŁo examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho nĂŁo era um cĂŁo,
NĂŁo era um gato,
NĂŁo era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontĂłlogo. De PorciĂșncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. TambĂ©m Ă© colaborador da RĂĄdio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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