Quem falou que as pessoas idosas não têm competência para a gestão – manuseio – de aparelhos tecnológicos de comunicação e de informação tão presentes ao nosso cotidiano? Que essa lida é somente para os mais jovens? Faço essas perguntas porque percebo que, para o senso comum, para muita gente, as pessoas idosas (grande parte delas) não têm como lidar com essas novas realidades. Esse mundo não é para as pessoas idosas, porque, necessariamente, elas têm – todas elas – dificuldades e são limitadas para usá-las. Fica a mensagem de que somente os jovens têm capacidade intelectual para lidar com o universo tecnológico.
Não é verdade. O que falta não é a habilidade das pessoas idosas na utilização desses novos recursos. O que precisa existir são oportunidades de cursos e estímulos de aprendizagens destinadas a esses cidadãos e cidadãs, que, em sua grande maioria, encontram-se num quadro de exclusão social, principalmente em relação à educação pública formal.
O Brasil tem um grande número de pessoas idosas analfabetas, além de tantas outras pessoas em outras faixas etárias. O uso das novas tecnologias faz parte da rotina de vida de muitas pessoas idosas, o que ficou evidente no período pandêmico. Mesmo que de uma forma desigual e reduzida, com a maior parte dessa população idosa excluída, sem acesso às essas novas condições de sociabilidade, através do mundo digital.
Temos uma velhice marginalizada também no alcance a esses avanços da tecnologia. Um exemplo típico, muito visível dessa situação, é a presença das pessoas idosas, beneficiárias do INSS, quando do recebimento de sua aposentadoria/pensão, nos primeiros dias de cada mês, no momento de sacar seus benefícios previdenciários. Como trabalham as meninas e meninos da Caixa Econômica Federal nesses dias! São longas filas do envelhecimento humano despossuído de dignidade e de reconhecimento social e público. Um absurdo! Os caixas eletrônicos automáticos nesses ambientes não facilitam o domínio das operações de comando emitidas, porque além de possuírem letras menores para quem tem uma diminuição de capacidade visual, a velocidade da passagem de uma operação bancária para outra é muito rápida. Com certeza, esse serviço não é pensado para os clientes e consumidores que apresentam condições de autonomia diferenciadas. Por que os caixas, alguns deles, além de preferenciais, não apresentam um outro formato na tela da máquina que possibilite aos clientes idosos habilidade total para o seu manuseio?
Para que haja uma melhor interação entre a maioria das pessoas idosas e as novas tecnologias que cabem na nossa mão, é preciso, como disse acima, que haja uma destinação de políticas públicas educacionais que levem essas pessoas para dentro da sala. As pessoas idosas, uma fração delas, interagem bem com os objetos tecnológicos. Prova disso é que algumas empresas desse setor estão direcionando seus serviços e produtos para esse público consumidor. Tem muita gente idosa que domina muito bem esses aparelhos tecnológicos comuns no cotidiano delas, principalmente para ampliar a socialização entre familiares e amigos.
Penso que a grande reflexão que pretendo entregar a vocês, leitores e leitoras desta coluna, é a de que as pessoas idosas necessariamente não são refratárias às novidades, como agora, por exemplo, do incremento da inteligência artificial (IA), ou não se importam com a existência da realidade digital. Não é isso. Elas precisam ter instrumentos e recursos educacionais para o domínio dessas novas estratégias de automação no mundo em que elas também têm o direito de viver, por mais que haja uma enorme indiferença e descaso da sociedade em relação às expectativas delas.
Para muitos de nós, a aposentadoria abre a possibilidade de uma nova postura na vida doméstica – momento de sair pouco de casa e de não realizar novas atividades. Para outros, como eu desejo e estou fazendo, um período de investimento em novas habilidades e descobertas que transformam hábitos e comportamentos. E o mundo digital é fascinante.