Cada vez mais, e assim será daqui para a frente, haverá presença das pessoas idosas no mundo. E eu quero continuar aqui, já idoso, presente no cotidiano da cidade. Junto à família e ter a companhia abençoada dos amigos e amigas, por menores que sejam em quantidade, mas os poucos e poucas que tiver, constituirão um bálsamo para os meus dias. Já disse por aqui uma vez: não desejo, nunca mesmo, deixar de viver. Mas, devo dizer, que presencio em mim, fantasmas amigos, que me falam da insegurança de ficar sozinho no futuro. Por isso, desde já, construo relações afetivas que posso levar adiante, para além do imediato, do instante ou do momento. Desejo boas amizades duradouras. Do modo antigo. Com um tom romântico diante desses tempos líquidos de relacionamentos contemporâneos. E se a velhice é edificada ao longo dos anos, desde já, penso que é fundamental formarmos laços amorosos entre nós. Buscar, batalhar mesmo, no bom sentido, por relações com pessoas agradáveis e que acrescentam algo à alma da gente. Que nos fazem crescer. Que nos enxergam. E onde há trocas de sentimentos e humanidades.
A pauta para esse momento, no cotidiano que estamos vivendo é sobre as eleições municipais. Depois de amanhã, a cidade já terá – espero que o resultado não demore tanto, como foi no dia 15 – um novo líder ou uma nova líder. E aqui eu faço novamente um pedido à você, caro leitor e leitora da Terceira Idade. Como vocês fizeram no primeiro turno; retornem às urnas, novamente, nesse próximo domingo, e marquem a sua posição pelo projeto de cidade, pelo modelo de desenvolvimento que desejam. Na sequência sobre a participação de eleitores idosos nas eleições, penso ser importante destacar aqui três situações nesse campo.
Primeiro, as eleições americanas: foram protagonizadas por dois concorrentes, idosos, cada um tem deles, com mais de 70 anos. Outro ponto. Bem perto de nós. A vizinha e próspera cidade de Muriaé, que é passagem, caminho, para a minha Porciúncula, escolheu o prefeito mais longevo do país. José Braz, com 95 anos de idade, por duas vezes já administrou aquele município. E na nossa querida JF, tivemos a participação de um candidato com mais de 80 anos. Ou seja. As pessoas idosas estão com participação ativa nos movimentos da sociedade. No caso das eleições, não só como votantes, mas como votados. São os ventos da mudança!
Encaminhando para o fim dessa crônica de hoje, e buscando responder ao seu título – “ainda temos o direito de ser velhos?” -, encontro em Luiza Erundina, colega de profissão e professora da nossa Faculdade de Serviço Social da UFJF, sua resposta, uma belíssima reflexão. Para essa sociedade que cultiva a morte. Com governantes que não respeitam o conhecimento científico, como, por exemplo, no enfrentamento da pandemia atual, e que, por tabela, não estão nem aí para o sofrimento das pessoas, notadamente, pela vida dos mais velhos, sem um gesto concreto de empatia ou compaixão. Aí vem uma senhora, idosa, cabelos brancos, uma brava e guerreira mulher nordestina. Ex-prefeita (1988) da maior cidade do país. Está na disputa, com chances reais de conquistar a Prefeitura de SP, como vice-prefeita na composição com Guilherme Boulos. Ela diz o seguinte e (viralizou nas redes sociais). “A velhice não é doença, não é defeito, a velhice não impede o sonho.
Portanto, o sonho que me move, em relação às transformações que a sociedade precisa, não envelheceu.” Confesso à vocês, que depois de ler esse depoimento público da Erundina (obrigado Luciane pela postagem) redobrei o ânimo e a coragem para persistir na luta. No sonho de uma cidade para todas as idades. Com o deslocamento da sociedade, que se abre para outras vozes e poderes. É o que as urnas estão mostrando, como em nossa cidade. Uma nova esperança está chegando, na convicção real de que dias melhores, virão. Com a força política e a participação cada vez mais crescente e importante das pessoas idosas. Ao encerrar esse texto, respondendo à pergunta inicial que dá o título a essa Coluna, deixo uma outra pergunta para a nossa reflexão. Se as pessoas idosas são muitas no mundo, no Brasil e em nossas cidades – em Juiz de Fora, são mais de 100 mil -, se são tão numerosas, por que não se rebelam?