Você tem medo de envelhecer? Essa é uma pergunta necessária no debate público da Geriatria e Gerontologia. Esse assunto do nosso envelhecimento requer de nós o exercício de muitas reflexões sobre como nós encaramos essa fase da vida, que ainda é um assunto periférico na arena pública, na família, na comunidade, nas escolas e faculdades. Por mais que tenha hoje um pouco mais de visibilidade, o envelhecimento é pouco visto e muito pouco falado.
Voltando à provocação inicial dessa coluna, observo que há sim um medo de envelhecer em muitas pessoas. A velhice é temida, e não tenho insegurança em afirmar que ela é rejeitada socialmente. Pesquisas mais recentes identificam que o maior medo dos entrevistados é o de, ao envelhecerem, “darem trabalho” para os outros. O que isso quer dizer? Quer dizer que meu medo de ficar velho é o de não ser capaz de sozinho dirigir a minha vida: não andar; não dar conta de me alimentar sozinho; cuidar da minha higiene pessoal. Enfim, na idade que virá, posso ficar incapaz de tocar a minha vida. Esse é o maior fantasma que habita as nossas mentes. Só que pode ser diferente. E é mesmo diferente.
Envelhecer não é adoecer. Os declínios físicos que ocorrem com a passagem do tempo em nós podem ser vistos e receber a orientação e supervisão de vários profissionais de saúde e provocar mudanças de hábitos de vida que até então levávamos, contrariando o dito popular de que “pau que nasce torto morre torto”. Não. Não podemos evitar o envelhecimento (como desejam alguns cientistas), mas podemos interferir na qualidade da nossa vida para atingir uma longevidade saudável.
Certo é também que as velhices são diferentes. Não envelhecemos todos nós da mesma forma. Há um mosaico de situações, maneiras, hábitos, comportamentos que levamos adiante na nossa caminhada etária. A grosso modo, tal como vivemos, assim envelhecemos. E onde entra o trabalho das pessoas cuidadoras de pessoas idosas? Entra no cuidado àquelas pessoas idosas que estão na condição de um pouco mais fragilizadas de saúde com redução de sua capacidade de autonomia e de independência para a gestão do seu cotidiano e de si. Não significa entender que todas as pessoas idosas vão precisar ou precisarão dos cuidados de terceiros.
No caso de pessoas idosas dependentes para a realização de atividades de vida diária, torna-se imprescindível a participação de pessoas para esse cuidado. Pessoas da própria família. Os cuidadores familiares, informais. Ou profissionais capacitados – será que estão? – para a rotina de cuidar de uma pessoa idosa. Eu coloco essa dúvida porque na nossa cidade é muito pequena, ou é quase inexistente, a oferta de cursos preparatórios oferecidos à comunidade para o exercício desse tipo de função, que cada vez mais cresce na nossa sociedade. Diariamente sou interpelado nas ruas ou nas redes sociais por alguém que me aborda pedindo um cuidador ou uma cuidadora de pessoa idosa para sua família. E não é nada fácil fazer essa indicação. Taí uma demanda, uma proposta, que apresento para os candidatos e candidatas a prefeito(a) e a vereador(as) nas próximas eleições municipais: criar cursos profissionalizantes para cuidadores de pessoas idosas.
Por experiência própria vivida no cuidado aos meus pais, senti o quanto é desgastante cuidar. É preciso, além de habilidades sócio-emocionais presentes, buscar um treino, um preparo profissional para essa função de cuidar de pessoas idosas. Mais do que representar um ato de amor, o que é muito importante e sublime, há que se ter também (buscar e adquirir) conhecimentos científicos para a qualificação desse cuidado. Um mercado crescente que não tem mais volta.