Espiritualidade e envelhecimento!

"Não há espiritualidade sem participação política. E é preciso distinguir espiritualidade de religiosidade, de participação em credos religiosos institucionalizados"

Por Jose Anisio Pitico

Com o envelhecimento, a busca pela transcendência aumenta. Ou seja, a nossa necessidade de contato com Deus cresce. O desejo de continuidade. Penso assim e acredito nisso, com base em pesquisas sérias realizadas por estudiosos da área da geriatria e gerontologia e também pela vivência profissional. Diga-se de passagem, nos honra muito ter na nossa universidade, na UFJF, a participação dinâmica e de grande expressão e respeito nos meios científicos dos trabalhos nessa área do fundador e diretor do Nupes – Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde, Professor Doutor Alexander Moreira de Almeida e equipe. Essa temática cada vez mais é campo de estudos crescente na ciência, até por conta do nosso aumento da longevidade, exatamente porque estamos vivendo mais. A ciência e a religião estão conversando um pouco mais, apesar dos tempos de trevas que passamos recentemente.

Desde cedo que procuro abrigo para a minha alma. Quando adolescente e próximo de prestar vestibular participava ativamente de um grupo de jovens em Cristo, ligado à Igreja Católica. Fazia parte do grupo da Igreja de Nossa Senhora da Cabeça, no Bairro São Dimas, próximo à rodoviária. E também do grupo da Igreja do Bairu, Igreja Sagrado Coração de Jesus. Nesses encontros, além da socialização que se criava entre nós, crescia também a leitura crítica do mundo inspirada nas páginas vivas do evangelho de Jesus para transformar o mundo. Ao entrar na universidade, aí que esse desejo queimava dentro da gente. Com o passar do tempo, e hoje com mais idade, reconheço e continuo lutando para que essa luz não se apague e não vai se apagar. Continuo com as mensagens vivas do Cristo na dimensão renovada de transformação dessa sociedade que está muito doente.

Sou participante das missas dominicais da Igreja da Glória. Alimento-me para a semana inteira das palavras que ouço e vibro em todos os momentos da celebração eucarística. O momento antes da comunhão é o que mais toca ao meu coração: “fazei isso em memória de mim”. A dimensão da espiritualidade está presente em todos nós. Não há espiritualidade sem o desejo de contribuir para o bem-estar da coletividade.

Não há espiritualidade sem participação política. E é preciso distinguir espiritualidade de religiosidade, de participação em credos religiosos institucionalizados. Temos muitas pessoas que não frequentam ambientes religiosos e são cheias de práticas de espiritualidades. São solidárias, amorosas, não fazem propagandas de suas ações de amor ao próximo, enquanto há muitos religiosos que só praticam o bem se tiverem vantagem ou se levarem vantagem na caridade alheia.

O envelhecimento é o tempo da colheita. De tudo aquilo que fizemos e que ainda podemos continuar a fazer. E se já estamos mais próximos do fim da vida – o que não quer dizer que a morte habite exclusivamente na velhice, ela faz parte da vida, em qualquer idade – é natural que pensemos na morte. A reflexão sobre a espiritualidade deve incorporar a dimensão da nossa finitude. Deve percorrer o que estamos fazendo no alargamento de nossos sonhos e potencialidades. Deve se converter em um olhar para dentro de nós.

Uma nova escola deve ser criada para ensinar as gerações futuras a importância, o valor e o reconhecimento das pessoas idosas. E que elas possam perceber que “onde vocês estão eu já estive; onde eu estou vocês estarão”. Aproximar as linhas da vida. Tudo é humano.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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