Nos dias que antecedem o Natal, somos envolvidos por uma atmosfera de altíssimo estímulo midiático para a correria de fazer compras e de ter gastos com presentes, e até mesmo, não deixar de levar algumas lembrancinhas. Tudo isso para agradar familiares, amigas e amigos. O que é muito interessante e gostoso. Eu gosto de receber presente, porque, para mim, significa que sou ou fui lembrado. Da mesma forma, está em mim a presença do meu pai, que trazia uma lembrança, de quando eu era menino e o esperava chegar de viagem do ônibus que parava em frente da nossa casa. Eu agachava na calçada para conferir o tipo do desenho do seu sapato para me certificar de que era ele que estava descendo do ônibus, na certeza, batendo no meu coração, de que ele trazia para mim umas balas e doces da minha preferência.
Começo a fazer alguns pedidos ao Papai Noel. Deveríamos estar mais sensíveis e atentos aos outros nos outros meses do ano. Podia ser dezembro em todos os meses do ano para que a rotina de pensarmos sobre a nossa vida não caísse somente sobre o último mês do ano. Que caminhos estamos seguindo com a passagem do tempo em nós? Por que só pensamos no futuro no fim do ano? Por outro lado, é muito confortável saber que temos outras oportunidades para conquistar outros modos de construir a nossa vida. De construir outros dias, manhãs e noites diferentes. Um outro pedido que faço ao bom velhinho é que ele derrame um pouco mais de tolerância e afeto nas nossas relações sociais, dentro e fora da casa da gente. E que a gente faça também a nossa parte. Tenhamos um pouco mais de paciência. Um pouco mais de compaixão e solidariedade. Com ninguém fazendo das ruas seu lugar de viver e conviver. Sem violência nas famílias.
Do Natal, desejo encharcar minha memória com as recordações vivas das reuniões familiares na casa dos meus avós em Porciúncula (RJ). E perceber que, assim como as águas do Rio Carangola passam pela minha cidade, eu também estou passando pela vida. No mergulho de me conhecer e celebrar a vida. Desejo também combinar com o Papai Noel que nesse domingo de Natal haja mais presença humana do que presentes de lojas na casa de muita gente. Que haja mais pessoas amigas no almoço de domingo. Que muitas pessoas idosas tenham o beijo, o abraço e o reconhecimento amoroso de seus familiares.
Sim, um Natal sem fome: por mais que possa parecer ser um bordão ultrapassado. Mas perto de nós tem muita gente que não tem para onde ir nem o que comer. Perto de nós tem muitas pessoas idosas que não têm auxílio para levantar da cama. Não tem ninguém por elas. Onde todos os dias são os mesmos. Porque elas não vivem, foram esquecidas de si, há muito tempo.
Nessa penúltima coluna do ano, prezada leitora e leitor, eu te desejo um feliz Natal, na presença das pessoas que você ama e é amada (o).