Acredito que, para vocês, distintos leitores, seja um pouco mais fácil e de imediato entendimento perceber o que faz o médico ou médica geriatra, se comparado com o que faz o(a) profissional da gerontologia. Os(as) geriatras cuidam da saúde da pessoa idosa sob os seus vários aspectos de vida. Estudam, pesquisam, produzem conhecimentos científicos sobre essa fase da nossa vida: desprezada e de pouca consideração social e política. Se a sociedade não enxerga e não tem respeito e atenção ao nosso processo de envelhecimento, acaba que essa realidade chega dessa forma em quem lida com essa população. São profissionais que não são vistos.
Pouco se sabe e muito pouco se reconhece o valor e a importância desses profissionais no dia a dia da sociedade e das nossas famílias. A percepção e o alcance da necessidade da atenção ou consulta regular ao geriatra é muito reduzido. Há uma visão social míope e preconceituosa na procura desse profissional. O geriatra é o profissional ou a profissional que vai enxergar a pessoa idosa em seus vários quadrantes de vida: aspectos sociais, psicológicos, econômicos, culturais, espirituais e familiares.
Nossa cultura, como escrevi há pouco, ao desvalorizar a todos nós que envelhecemos pela idade que vamos somando, desvaloriza também os profissionais que lidam com essa faixa etária. Nossa educação é etarista, o que prevalece diretamente em todas as nossas relações sociais. A demanda para o atendimento do geriatra é pouco visto e pouco valorizado. As faculdades e instituições de ensino superior que formam vários profissionais de saúde precisam, o quanto antes, fortalecer em seus currículos conteúdos pertinentes à saúde das pessoas idosas. Até mesmo por uma questão dessa nova realidade demográfica, a de que temos hoje muitas pessoas idosas, e que também a expectativa de vida aumentou muito. A longevidade é uma realidade.
Na atenção à saúde da pessoa idosa, o caminho está invertido, o geriatra entra no final da fila. Quando, na minha opinião, ele deve ser o primeiro a ser consultado. Não é o que acontece. Por exemplo: se a minha mãe tem esquecimentos repetidos de rotina que podem comprometer sua vida, eu não a levo, imediatamente, no geriatra, vou buscar um neurologista. Aqui não se trata de definir quem é melhor ou pior profissional, não é competição científica ou de status corporativo, e sim buscar uma organização criteriosa nos cuidados à saúde da pessoa idosa e dentro de uma avaliação compartilhada pelos profissionais e cuidadores, reduzir o que for possível essa agenda de especialistas, porque é o que passam, de um modo geral, as pessoas idosas que estão sobre tratamento médico. É uma romaria de atendimentos (muitas das vezes, inócuos), que Deus me livre!
O geriatra é o técnico da equipe. Ele que vai substituir ou entrar com esse ou aquele profissional na evolução de saúde das pessoas idosas. Se com a geriatria, a visibilidade ainda é pouco nítida, como a sociedade vê a atuação do profissional da gerontologia? Esse profissional vai propor e executar um plano de cuidados aos seus interlocutores para que conquistem um envelhecimento ativo e saudável. Vai orientar os familiares e(ou) os cuidadores na assistência às pessoas idosas. Deixar registrado que esse profissional não é médico. Agora eu posso ter um médico(a) gerontólogo(a), que seria o ideal. Os profissionais da geriatria e a da gerontologia têm que andar de mãos dadas.
A propósito, consta no calendário que hoje é o Dia da Gerontologia. Ao(as) amigo(as) e colegas, meus parabéns! Ao(as) amigo(as) da geriatria, também!