O mĂȘs de maio Ă© o mĂȘs do meu nascimento. Embora oficialmente, nos documentos pessoais, meu registro consta 4 de outubro. Fico cinco meses mais novo. Ăs vezes, Ă© bom. Ăs vezes, nĂŁo. Esse expediente ficou assim porque meu pai nĂŁo deu conta de realizar o evento na semana que eu nasci. E acho tambĂ©m que ele nĂŁo tinha dinheiro para fazer o registro no cartĂłrio. E foi passando o tempo…. Meu apelido foi dado por ele. Meu nome tem as iniciais do nome dele. JAS. Meu pai “nĂŁo era desse mundo”, como ele mesmo disse uma vez(assim, se percebia). No dia 17, faz oito anos que nĂŁo o vejo mais. Embora ele tem toda presença na minha vida. Principalmente na arte de sonhar com dias mais justos para todas as pessoas. Que elas tenham o que comer. Uma sociedade fraterna e bem menos desigual. Ă o que entre outras marcas, levo do meu pai. Do seu humor. Uma alegria que sufocava todo o seu sofrimento diante da falta de estĂmulo materno para voar seus sonhos. Fez da arte na madeira, ao modo do pai, seu refĂșgio espiritual, a aprendizagem de si.
Com o tratamento de saĂșde da minha mĂŁe, os meses tĂȘm sido iguais. Ela tem morado na minha mente. E me impactado bastante. Emocionalmente. Existencialmente. A visĂŁo de sua finitude me faz pensar e refletir na vida todos os dias. Como crente Ă Deus, com fĂ©, peço Ă Ele, que me inspire serenidade e coragem silenciosa para viver cada dia, a seu turno. Absorvendo liçÔes no cuidado dispensado Ă ela. E revendo meus pensamentos e comportamentos nas relaçÔes sociais das amizades e das interaçÔes familiares. AtĂ© o presente momento e sinto que achei o meu lugar diante dessa situação de saĂșde – de vida – que se encontra minha mĂŁe, de que Ă© preciso conversar abertamente sobre a nossa despedida, sobre a ausĂȘncia fĂsica que nos aguarda, em poucos dias ou em muitos anos.
Quando vou dormir, antes de definitivamente, adormecer, penso no dia que passou, o que tive nesse dia. Reflito sobre sua partida. HĂĄ momentos em que me angustio. HĂĄ momentos em que me silencio e entrego meus sentimentos Ă vida, que sĂł me foi possĂvel, porque ela me oportunizou existir. Concluo que Ă© pelo amor mesmo, que implica em a gente ter perdas e ganhos, tristezas, angĂșstias e dores, que a vida Ă© muito bonita. O que tambĂ©m justifica o nosso cuidado com as pessoas que a gente ama. A nossa salvação, a salvação do planeta daqui para a frente, Ă© a adoção de um gesto concreto de cuidarmos uns dos outros. Pode parecer lugar comum, bordĂŁo de autores midiĂĄticos, mas Ă© o caminho que acredito. Começando dentro da casa da gente. Começando com os nossos.
Aprendo que quanto mais eu percebo a morte em mim e a morte das pessoas da minha famĂlia ou de pessoas que me sĂŁo queridas, mais eu me enxergo de como estou dirigindo a minha vida. Por que caminhos ou em quĂȘ caminhos tenho colocado minha alma? Onde minha alma estĂĄ? SĂŁo perguntas importantes que me faço para nĂŁo sair do contato dos meus sentimentos e percepçÔes.
A Ășltima sessĂŁo da minha mĂŁe, desejo que seja bem mais Ă frente, antevejo e pressinto que o sentimento de orfandade cairĂĄ forte sobre mim. Eu que ainda nĂŁo tenho as pernas totalmente fortalecidas para viver a vida sem o olhar de alguĂ©m.
PS – Ontem foi dia do meu aniversĂĄrio.