Propósito de vida no envelhecimento

"Meu propósito de vida é dar sentido e direção aos dias no processo de envelhecimento e ao envelhecimento de outras pessoas."

Por Jose Anisio Pitico

No desenvolvimento da nossa trajetória humana, dia após dia, vamos vivendo por viver, sem, na maioria das vezes, realizar um planejamento para o nosso futuro. E desse nosso futuro não faz parte morrer. Nossa educação pública, social, não dá conta de nos educar para a realidade da vida, do nosso envelhecimento e muito menos para a realidade da nossa finitude.

Em relação ao nosso crescimento pessoal e profissional na vida, trata-se de ser muito mais um esforço individual, persistente, do que um estímulo externo para o sucesso de nossa caminhada. Meus pais fizeram de tudo para a nossa educação (minha e a da meu irmão). E foi a educação pública que me salvou como pessoa. Desde o primário até o ensino superior. Nesse crescimento, nessa passagem do tempo em mim, procurei o meu caminho na vida, em consonância com o que se passa na minha alma. Escolhi uma profissão que me possibilitasse o contato com a experiência humana de existir com todas as suas fraquezas, fragilidades e potencialidades.

Nesse novo horizonte de vida, nessa descoberta do mundo, me segurei também na literatura, nos livros. Busquei também a psicoterapia por mais de 15 anos para adquirir um pouco mais de equilíbrio e de serenidade para o meu autoconhecimento. Encontrei-me uma pessoa que precisa de outras pessoas. E foi no trabalho social com algumas pessoas idosas que mergulhei na falta humana e na imponderabilidade da vida. Nessa aprendizagem foram mais de 30 anos, de sim e de não. Até que entrei para o grupo das pessoas idosas, hoje com 63 anos de idade. E me faço a seguinte pergunta: qual é o meu propósito de vida? – expressão tão em voga na atualidade, está na moda, presente no mundo corporativo, acompanhada por coachs, treinadores de nossas emoções.

Meu propósito de vida é dar sentido e direção aos dias no processo de envelhecimento e ao envelhecimento de outras pessoas. Conforme a literatura especializada nos orienta, é preciso transformar os sonhos e os desejos em objetivos e metas. Daí, caros leitores, compartilho com vocês algumas questões básicas para a nossa reflexão nesse campo de evolução para a nossa subjetividade. Quais são os seus desejos e sonhos? O que te motiva na vida? O que te faz acordar animado? O que você gostaria de fazer nos próximos seis meses, um ano, cinco anos? Dá tempo, sim. Vamos começar agora. Vamos viver muito.

Pode parecer fala de um bonito personagem da “Sessão da tarde”, mas o texto é esse: nunca é tarde para começar. Ou recomeçar, não há culpa nenhuma nessa atitude. Diante da realidade do envelhecimento populacional mundial e do nosso país e de nossa cidade, o grande desafio, hoje, já não é ter o alcance de uma vida longa, mas, sim, conquistar uma vida com propósitos, com ter o que fazer na direção de construir uma cidade melhor para todas as idades.

Vou comentar um pouco por aqui também sobre a aposentadoria, momento de saída do trabalho profissional que nos confere uma nova realidade, elimina a nossa identidade funcional o que se confunde com a destituição de nossa personalidade: a aposentadoria nos despersonaliza da nossa importância social. Você não é mais, você foi. E aqui cabe fazer um novo começo, reinventar um propósito de vida, em cheio, na continuidade da batida do nosso coração.

É preciso também ter coragem e fé para levar adiante os longos anos que teremos pela frente. Mais questões se sobressaem ao escrito: o que eu vou fazer com esses anos a mais? Onde e como vou investir o meu tempo? A semeadura é extensa.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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