Escrever, estudar, falar, trabalhar com o envelhecimento humano é ainda um assunto proibido, uma pauta que não se permite falar dela com frequência, de tanta recusa que encontra em nossas relações sociais. À grosso modo e com uma dose de exagero da minha parte, ninguém ou quase ninguém se interessa por esse assunto no sentido de, publicamente, falar sobre ele. É um tema obsceno. Fora da cena pública.
Por mais que o mundo tenha mudado, e, principalmente, com o aumento do nosso tempo de vida, a conquista da longevidade ainda não é celebrada entre nós. Ainda temos muito medo de envelhecer! Esse medo, acredito, está muito ligado à fantasia de que, com o envelhecimento, necessariamente, ficaremos, todos nós, dependentes dos cuidados dos outros: ou de um familiar ou mesmo dos cuidados formais de profissionais contratados para a gestão da nossa vida na realização de atividades de vida diária – alimentação, higiene pessoal, vestuário, cuidados pessoais.
Se tem um conteúdo que vem carregado de fantasias e de ilusões, o do envelhecimento é imbatível. O que justifica o quanto que nós devemos falar e produzir conhecimentos científicos sobre ele. Principalmente as instituições de Ensino Superior. Com essa coluna semanal, caro leitor e prezada leitora, vocês contribuem para esse assunto ganhar cada vez mais repercussão nos meios sociais. Inclusive, penso que é muito interessante que essas colunas sejam compartilhadas no ambiente familiar de todos nós. Esse assunto deve ser re/lido em casa.
Certa feita, li em algum jornal que, em algumas cidades, fora do Brasil, em ambientes públicos, de grande circulação de pessoas – parques, praças e museus – até para dar uma pausa na correria do cotidiano, na mecânica dos dias, algumas pessoas, voluntariamente, ajuntam-se e param por um pouco tempo a rotina dos compromissos para espontaneamente conversarem sobre suas vidas: doença na família, falta de emprego, mortes e perdas de pessoas queridas e amadas. Forma-se um grupo “terapêutico” de socialização de sofrimentos e de possibilidades na vida. Como se estivessem em um grande consultório de rua, que se faz e desfaz, de acordo com os interesses das pessoas. Faltam lugares de encontros para nós na cidade.
Em se falando de cuidados na velhice, vivi, há pouco tempo atrás, cerca de dois anos passados, junto de alguns familiares, o processo de cuidados de saúde dispensados à minha mãe. E tive contato pela primeira vez com equipe de profissionais habilitada em cuidados paliativos do Hospital Santa Casa de Misericórdia de JF. Uma equipe inter-multiprofissional. Com atendimento domiciliar e atendimento no próprio hospital. Em comum acordo com os familiares, fizemos a opção por não “entubar” a paciente (minha mãe), como seria, de procedimento, na UTI. Foi a melhor decisão que tomamos. Naturalmente, dentro da nossa realidade de cuidadores e do entendimento comum entre nós. Cada caso é um caso. Vivenciamos a dor humana nesse processo de viver e de morrer. Não senti culpa de nada. O que, às vezes, está presente nesses momentos finais de vida. Resolvi trazer esse quadro existencial de cuidados paliativos para valorizar esses profissionais e oferecer o devido reconhecimento à capacidade de cuidar dos pacientes idosos, que foi no meu caso, com a minha mãe, de 81 anos. Há uma presença na despedida. O debate, a conversa sobre a atuação dos profissionais dos cuidados paliativos vem ganhando expressão e importância, embora ainda haja muita resistência e pouquíssimo entendimento sobre a forma de atuação desses importantes profissionais do cuidado.
Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, médica e escritora, vem dando uma enorme contribuição para o entendimento sobre os cuidados paliativos, mais em pacientes idosos, com a publicação de vários livros super interessantes sobre esse tema da coluna de hoje e vários desdobramentos. Entre outras importantes publicações em livros. Deixo aqui a sugestão do concorrido e muito bem aceito. “A morte é um dia que vale a pena viver”. Fica a dica.