Genética ou estilo de vida? 

Por Jose Anisio Pitico

Informações das mais variadas naturezas sobre o nosso mundo são ofertadas numa velocidade espantosa. O que coloca em duvida a credibilidade das construções científicas das teorias apresentadas e divulgadas nas plataformas digitais, no território livre da internet. O que era tido como certo, ontem, hoje, ou passado alguns dias, ou até mesmo horas, já não é mais o que deve ser seguido. Ou não é mais unanimidade.

No campo do envelhecimento, arena própria da gerontologia e da geriatria, há muitas especulações e arranjos tidos como comprovados que levam a assinatura de instituições de pesquisas, que visam muito mais a obtenção do lucro na comercialização de seus inventos mirabolantes do que efetivamente melhorar a vida de algumas pessoas. São produtos e serviços que se proclamam eficientes, que no fundo seus patrocinadores estão mesmos é preocupados e interessados com o mercado nas vendas de suas descobertas e novidades. Na sua grande maioria, trata-se de oferecer experimentos que “retardam” a chegada da velhice ou que prometem o rejuvenescimento das pessoas ou o seu anti-envelhecimento.

Por aqui, nesse mercado da idade para sempre jovem, dinheiro e mais dinheiro, são lançadas na produção pesquisas que comprovem a eternidade da juventude. Até quando nós podemos viver? Qual é duração máxima do organismo humano? Tenho visto e lido alguma coisa nesse patamar de que podemos viver até 120 anos, 140? Uma consulta rápida realizada nesse momento, no Google, me informa que “Maria Branyas Morera nasceu em 04 de março de 1907, em São Francisco, nos Estados Unidos. Comemorou o seu 117º aniversário há dois meses atrás. Reconhecimento obtido pelo Guinness Book of World Records. Por outro lado tem gente que está sendo paga e muito bem paga para produzir a morte da velhice: “forever young”!!!

Entrando um pouco mais para o interior dos gabinetes milionários das produções teóricas-científicas sobre o envelhecimento humano, diga-se de passagem, o campo aqui é recheado de polêmicas e entendimentos diferentes sobre o que justifica a existência dessa fase da vida em nós: desde a sua aceitação e sua negação, e até mesmo a sua retirada da possibilidade humana de existir. Na verdade, caros leitores e leitoras, posso afirmar, sem medo, que esse tema do envelhecimento sempre foi e continua sendo um tema de pouca presença ou quase nenhuma nos debates públicos de nossa sociedade e de nossas cidades. Na nossa vida também.

O que temos, de sobra, desde os tempos primórdios, de lá para cá, é a predominância do etarismo, com preconceitos e informações equivocadas sobre o nosso processo de envelhecimento. Só que hoje estamos vivendo a “revolução da longevidade”, como nos aponta o grande médico gerontólogo e pesquisador brasileiro Alexandre Kalache. Com base em suas reflexões, esse grande cientista do envelhecimento, de fácil acesso nas redes sociais, nos entrega algumas informações para a mudança de nossos comportamentos e hábitos de vida que são muito importantes no alcance de uma vida longa, ou de como chegar bem à velhice. Não necessariamente nessa ordem. Diz ele, na minha livre interpretação: é preciso cuidar da nossa saúde, desde cedo; vá aos profissionais da área regularmente; a prática de atividades físicas ganha protagonismo nesse ponto; comece agora, procure uma academia de educação física, de sua preferência, com profissionais qualificados. Outro aspecto interessante para a nossa boa velhice é criar e cultivar nosso capital social – ter amigas e amigos saudáveis, pessoas que te querem bem e que torcem por você, evite pessoas tóxicas. Como na música cantada por Cássia Eller, ‘troque a planta de lugar”. Faça coisas diferentes daquelas que faz todos os dias. Experimente fazer um almoço diferente. Ao invés de comer pão com ovo todos os dias (eu reconheço que está mais em conta), faça uma boa e rara “crepioca”, com ovos, naturalmente, no café da manhã. E como não pode faltar, em qualquer fase da nossa vida, é preciso ter uma reserva financeira para os imprevistos que a vida na estação da velhice pode nos trazer.

Por fim, esbarrando na pergunta-motivadora da Coluna: genética ou estilo de vida? Certo é que a herança genética tem um papel muito importante, mas, mais do que ter parentes e familiares longevos, a extensão da nossa idade está muita ligada ao cultivo das boas e necessárias relações socias – gostosas amizades e relacionamentos agradáveis – que levam a gente para mais longe em idade e em humanidade.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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