Viver é percorrer uma estrada. É obter coragem e disposição para viajar. Reconhecer em si os pontos turísticos e as novidades da alma. A vida vem em ondas, como canta Lulu Santos. O importante é estar em movimento. Na busca permanente para, se possível, alcançar seus desejos, por menores que eles sejam. Ter vontade não significa fazer, sair da cabeça e ir para a ação. Esse é o desafio. E em qualquer tempo, ou em qualquer idade, é possível buscar propósitos para viver. Será que o que eu estou fazendo me faz sentir vivo? Como me sinto?
Para mim, o significado e o valor da vida estão ligados às relações que estabeleço comigo e com as pessoas, começando dentro de casa, com os familiares. Estou totalmente convencido da importância da convivência diária familiar na nossa formação humana e profissional, porque reconheço em mim os traços e desenhos que meus pais deixaram. Meu pai representa o sonho. O lado da criação, do artista. Minha mãe fixava-se em alimentar os filhos. Vivi, na infância e na adolescência, junto com meu irmão – sou quatro anos mais velho -, os conflitos, as queixas, ansiedades e raivas presentes em casa pela irregularidade da alimentação na nossa rotina.
Até que, em 1968, nos mudamos, com a cara e com a coragem, para Juiz de Fora. Nova vida. Novas possibilidades. Graças a Deus e à contribuição de muita gente, conquistamos a vida, a liberdade e o conhecimento pela educação pública. Encontramos a porta do céu – para nossos sonhos – nas salas de aulas. Carrego a voz, cada vez mais presente, da minha mãe, na minha alma, que um dia disse para nós: “O estudo é a luz da vida”. Essa, sem sombra de dúvida, é uma primeira lição, e talvez a mais importante, que apresento a vocês, caros leitores e leitoras: a educação é o sonho para/da nossa vida. Viver e aprender andam de mãos dadas pela vida afora. Nunca devemos perder o interesse pelas coisas e pelas pessoas.
Outra lição que o tempo me deu e vem me dando é a possibilidade, dia após dia, de ir ao encontro do que eu quero ser. Descobrir o novo lado de nós mesmos. Outras e novas identidades. Em grande parte, isso vem da educação, dos livros, das leituras, das páginas da vida de outras pessoas, mas que se encontram com as minhas páginas de vida. Para quem, como eu, deseja viver uma vida simples e em conexão (palavra da moda) com outras pessoas, é fundamental ter o exercício do autoconhecimento e a revisão constante de comportamentos, ideias e percepções. Penso que é preciso ter a consciência de que estamos em construção como indivíduos e como sociedade. É preciso também definir de que lado nós estamos e o que queremos para a nossa vida.
Uma outra grande lição, e certamente é a que me levantou para a vida, de hoje até os meus dias finais, é o trabalho social com as pessoas idosas na cidade. Uma grande oportunidade para o meu crescimento como pessoa e como profissional. Isso porque eu estou certo da necessidade de aprender a viver. Talvez ainda sobreviva, no senso comum, a ideia de que as pessoas idosas, só pela idade, deveriam ser todas próximas da sabedoria e do bom caráter. Não é verdade essa afirmação. Não é a idade que molda o caráter de alguém. É a pessoa, em qualquer idade, que conquista seu patrimônio ético e cidadão de respeito na convivência social. Ter mais idade não é, necessariamente, uma regra geral, nem sinônimo, para alguém ser uma pessoa íntegra e honesta. Como já nos alertava o grande jurista e orador baiano, Rui Barbosa, “não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem”.
O certo é que, na minha opinião, e sem oferecer receita de como viver melhor para ninguém, eu escolhi e faço esforço, diariamente, para ser uma pessoa melhor. Tirar as lições que o tempo – senhor da razão – pode me oferecer. Tenho plena consciência de que estamos vivendo tempos sombrios para a celebração da vida, na presença de familiares e amigos. Peço a Deus para que não me falte coragem e esperança para resistir a esses tempos e não me deixe desistir, certo de que amanhã o sol vai voltar a brilhar.