Melhor idade?

Por Jose Anisio Pitico

É muito comum na nossa convivência social diária, algumas pessoas utilizarem-se de vários recursos linguísticos na intenção de esconder alguns sentimentos que determinadas palavras trazem ao nosso mundo íntimo ao serem expressas e conhecidas. E em muitas das vezes, quem fala não está presente no que diz, inclusive publicamente. É o caso de muitos (a maioria) dos nossos representantes políticos. Falam por falar, de um modo protocolar. Quando não muito, falam “borrachas” e “abobrinhas”. Entre tantas palavras que são criadas e que viram modismos e todo mundo passa a falar, percebo, até por dever de ofício, que muita gente torce o nariz quando algum palestrante ou autoridade na área da gerontologia e/ou da geriatria refere-se ao público participante – ouvinte, telespectador, leitor, internauta – dizendo que “vocês, velhos e velhas, devem fazer isso ou aquilo”, ou invés de vocês, “idosos e idosas”… O mal-estar está criado.

Eu devo dizer a vocês, caros leitores e leitoras, que eu tenho esse cuidado quando estou em uma entrevista ou em uma participação pública, na definição do termo a ser utilizado. O politicamente correto e certo, para mim, é reconhecer-se velho/a. Eu sou uma pessoa velha! São poucas as pessoas, mas elas existem, que assumem, publicamente, essa condição, com orgulho e altivez, com equilíbrio e sabedoria.

Eu entendo essa reação do público. Velho ou velha a gente logo associa com uma coisa velha. Carro velho. Roupa velha. Ao serem pronunciadas essas palavras, “velho” ou “velha”, o sujeito, automaticamente, internaliza a ideia para si de que ele não vale mais nada, ela não serve para mais nada. Para ilustrar essa ideia, lembro-me de algum tempo atrás, no cotidiano do nosso trabalho com pessoas idosas, que a tarefa era observar como a mídia tratava as pessoas idosas. Aí tinha um anúncio num jornal que dizia o seguinte: “Troque sua velha por uma nova”. Bem no meio da página, em letras destacadas. Tratava-se de um comercial – venda de motocicleta – à época. Não me esqueço dessa propaganda. Para os dias de hoje, estaria extremamente fora do contexto e seria alvo, com razão, de processos judiciais, por descabido preconceito e desconsideração às pessoas pela idade delas, que ainda existem no nosso meio social.

Estamos avançando na construção de uma nova sociabilidade. Penso que, nesse momento, é importante eu registrar, para o conhecimento de todos vocês, que desde o dia 30 de dezembro de 2015, vale a Lei nº13.292, de autoria da ex-vereadora Ana Rossignoli, que dispõe sobre a divulgação do novo símbolo que representa a Pessoa Idosa em placas utilizadas em espaços públicos do município de Juiz de Fora. A grosso modo, aposentam-se os corpos curvados para trás com suas bengalas, e temos o protagonismo de uma figura humana dos 60+.

Dentro desse contexto linguístico – retomando a ideia do início dessa prosa na referência ao nosso envelhecimento humano -, digo que pela dificuldade de nossa aceitação sobre essa realidade, procuramos “dourar a pílula” no tratamento a ele. Historicamente, na revisão da literatura especializada, percebo que a aceitação de a pessoa se perceber velha ou velho não é nada fácil. Sempre tivemos e temos, de um modo geral, resistências de várias ordens, polêmicas e dificuldades em aceitar a passagem do tempo em nós. Assim difundimos ideias, situações e reflexões sobre a nossa “melhor idade”, que, para muitas pessoas, inclusive para alguns grandes escritores, como exemplo o grande biógrafo Ruy Castro, essa expressão é um grande equívoco. Ele diz, e esse texto viralizou nas redes sociais, o seguinte: “melhor idade é a puta que te pariu!”. Com todas as letras. Eu ouvi de pessoas próximas ao meu relacionamento comentários bem parecidos com esse quando a coluna com esse mesmo nome ia ao ar na ex-parceria da Rede Tribuna de Comunicação/JF com a Rádio CBN.

A polêmica está colocada. O que você pensa sobre esse termo? O tema da velhice é mesmo e sempre foi um tema controverso, de difícil assimilação das culturas humanas. Para mim, melhor idade é a idade que nós temos hoje. E desejo sim fazer da minha velhice uma melhor idade.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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