“Ninguém pode ver, nem compreender nos outros, o que ele próprio não tiver vivido”, disse Hermann Hesse, o escritor alemão mais lido do século XX, embora não me considere um leitor robusto de suas obras. Ouvi mais falar do que li seus livros, como “Demian”, “Sidarta” e o muito falado – e pouco lido – “O Lobo da Estepe”.
Eu gosto muito de suas reflexões. E quando comecei a escrever essa crônica, pela pergunta que empresta o título à Coluna, ele me veio à ideia. De outra forma, com uma livre interpretação, tentando chegar perto da resposta à pergunta do título dessa Coluna.
Esclareço, de antemão, que não desejo ter a intenção e a proposta de fechar questão: pelo contrário, minha expectativa aqui é só promover com vocês, caros leitores e leitoras, algumas reflexões, aí sim, que a questão levantada me apresenta.
Mistério. Não vou carimbar nenhuma resposta. Vou somente evoluir em algumas considerações que essa pergunta me traz. Ainda com o pensamento do escritor alemão que abre essas linhas, penso que a vivência da situação do outro me autoriza a fazer um comentário mais próximo de sua realidade.
Com certeza! É quando o ator ou a atriz vivencia as emoções e os sentimentos de seus personagens. Eu tive dificuldades, colhi rejeição de algumas pessoas idosas, quando iniciei o trabalho social e público com essa população na cidade, por ser, à época, mais jovem que todos eles: elas, na verdade, que são maioria no contexto do envelhecimento.
Se ter a vivência do outro, pode sim, dar verdade – e dá mesmo – ao meu relato e arte sobre ele, não ter a mesma idade, aqui no meu caso, não me impediu de ter sensibilidade, empatia e solidariedade pela questão das pessoas idosas, mesmo ainda sendo uma pessoa um pouco mais jovem.
Venci essa rejeição apostando no respeito e no comportamento ético no cotidiano do trabalho. Definir as pessoas para prendê-las e enquadrá-las pela cor, sexo, idade e outras contingências, fazem de nós, pessoas menores, que não somos.
Somos seres humanos – gigantes – e, como tais, não cabemos em códigos profissionais que cercam a nossa grandeza para a evolução espiritual na direção de nós mesmos. O que vale mesmo é o desejo e a atitude de respeito e amor pela diversidade e pluralidade do que podemos nos tornar.
Fica uma pergunta sem resposta. Quem é a Pessoa Idosa? Eu não sei responder. Será que tem resposta? Mas sei o que desejo para elas, motivado pelo dia de hoje, Dia Internacional da Pessoa Idosa. Eu desejo para elas, principalmente para as pessoas idosas que estão colocadas no andar de baixo do poço social que nos encontramos: envolvimento da comunidade na busca de melhores condições de vida; ter o que comer; não ter nenhum tipo de violência; ter afeto e amor; ter com quem ir e onde ir; usufruir de direitos à assistência social e à saúde com qualidade.
Desejo, também, leitores e leitoras, que datas como a de hoje não sejam apenas efemérides, como produtos vendidos nas prateleiras dos mercados que tem data de validade. Eu sonho, eu acredito na utopia de que, um dia, não precisaremos mais sermos lembrados pela etiqueta social e pelo protocolo cultural que as pessoas idosas existem e são merecedoras de todo o nosso respeito e o nosso amor. Para o bem de nossa própria humanidade que está muito ameaçada de desmanchar.
Parabéns, apesar dos pesares, a todos e a todas vocês pelo Dia Internacional e Nacional da Pessoa Idosa.