Com gato ou como gato?

Por Marcos Araújo

Escrevi este texto no dia do meu aniversário, comemorado na última sexta-feira. Celebrar mais uma data de nosso nascimento é sempre um motivo de agradecimento, porque também significa que a vida segue adiante e, sendo assim, precisa sempre ser acolhida com exaltação. Em meio às solenidades que cercam o dia em que completamos mais uma volta ao redor do sol, que é cheio de mimos e de congratulações recebidas (o que nos enche de sentimentos de alegria), é também, de forma introspectiva, um tempo de revisão. 

Mesmo não querendo, a gente se pega em lembranças. A mente exibe um filme que nos coloca na posição de protagonista e é quase impossível deixar de pensar no que já passou, gerando indagações. Nossas escolhas valeram a pena? E se tivesse ido por outro caminho? Tudo seria diferente? Perguntas que não produzem efeitos, porque a vida não pode ser passada a limpo. O que ficou para trás permanece inalterado. A lente da maturidade, que apazigua muitas inquietações, nos deixa olhar para o passado com mais condescendência. Se existe o desejo de mudança, é daqui para frente.  

Posto isso, quero contar que, durante uma ligação telefônica para receber as felicitações, em meio àquela conversa banal de dia de aniversário, um amigo lança outra questão que é quase um enigma: “- A gente nasce sem querer, né?” Pois é, parece que nascemos. Assim como nascemos sem querer numa determinada família, carregando, sem querer, uma bagagem de genes. O que importa é que somos colocados no mundo, e a vida avisa, sem eufemismos: “- Agora vai, pois só depende de você.” E a gente vai mesmo, contando só com o que temos, para o bem ou para o mal. Se não for assim, a vida fica paralisada. É um vazio, que pode até significar a morte, mas a maioria das pessoas não quer isso. Eu e meu amigo concordamos. 

Refletindo mais um pouco, depois de já ter iniciado o processo de escrita deste texto, pensei: a vida é um desafio que nos é imposto, que devemos aceitá-lo e fazer valer aquele ditado popular que tem duas versões. A primeira é que “quem não tem cão, caça com o gato”, o que, ao pé da letra, diz que, quando não se tem cachorro, leva-se o gato para caçar. A outra é que “quem não tem cão, caça como gato”, que pode ser lida assim: se não tem um cão para encurralar a caça, você tem que caçar de uma maneira sorrateira e astuciosa como um gato. 

Aqui, na reflexão proposta, as duas interpretações fazem muito sentido, porque, neste mundo, ou a gente conta com a ajuda do gato ou se transforma no próprio gato, que, biologicamente falando, só tem uma vida. Hoje, somos o resultado do que fomos, das preferências que fizemos, dos encontros e dos desencontros, das idas e das vindas, daqueles que foram e dos que chegaram. A vida é isso, às vezes, boa, às vezes, ruim; mas é sempre vida.

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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